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Cristina pode tentar tirar proveito político, diz autor

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

A política de direitos humanos das gestões Néstor (2003/07) e Cristina Kirchner teve seu mais importante resultado com o encontro de Guido, o neto da líder da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto.

Para o historiador argentino Federico Finchelstein, porém, os Kirchner não podem ser apresentados como únicos responsáveis pela Justiça quanto aos crimes da última ditadura do país [1976-83].

"As reparações começaram já nos anos 80, durante o governo de Raúl Alfonsín [1983/89], com a Conadep [Comissão Nacional de Desaparecidos] e o Julgamento das Juntas. As políticas de memória do kirchnerismo ofereceram um aporte muito importante, mas enfatizaram a ideia de que os anos 70 foram embate entre heróis e vilões".

Finchelstein, que está lançando "The Ideological Origins of the Dirty War" [as origens ideológicas da Guerra Suja], ensaio sobre a genealogia da violência na cultura política argentina, diz que a reparação dos crimes da repressão é uma história de "continuidades e rupturas".

Logo após a redemocratização, houve um extenso julgamento em que se condenaram militares e guerrilheiros.

Logo vieram as leis de Ponto Final [1986] e Obediência Devida [1987], revertendo sentenças de militares. Na década de 90, dentro da política de reconciliação nacional de Carlos Menem [1989-99], foram concedidos indultos.

Os Kirchner anularam essas leis e iniciaram amplo processo de julgamento e condenação dos militares, ao mesmo tempo em que cooptavam apoio das associações de defesa de vítimas.

"Houve uma desinstitucionalização da política de direitos humanos, que passou a ser uma política de partido."

A chefe das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, 85, é a mais engajada propagandista de Cristina Kirchner.

Já Carlotto, apesar de ser também alinhada, tem um perfil mais crítico e moderado, e por isso é mais popular entre os argentinos. Nem por isso, deixa de ir à maioria de atos pró-Cristina.

"O fato de o neto ter sido encontrado é uma linda notícia, mas certamente é possível que o governo tente tirar crédito político disso. Espero que não se transforme em instrumento de propaganda", conclui o historiador.

A popularidade do governo vem se desgastando devido à crise econômica --alta inflação (cerca de 30%) e o anúncio da moratória no pagamento de fundos.

No ano que vem, ocorrem novas eleições presidenciais. Cristina não poderá candidatar-se, mas é bastante provável que o kirchnerismo apresente um candidato próprio.

No livro, Finchelstein explica por que uma sociedade que em sua essência histórica é secular deu espaço para o fortalecimento de um ideário nacionalista afinado com o fascismo europeu e de cunho extremamente religioso.

No fim do século 19, havia predominado a visão de pensadores liberais que defendiam a laicidade do Estado.

A obra mostra, porém, que nas primeiras décadas do século 20 cresceu a influência da igreja no poder político.

Para Finchelstein, as duas correntes, nacionalista/religiosa e secular/progressista, ainda convivem. Essa é a razão para que o racismo e a xenofobia estejam presentes, mas também haja espaço significativo para avanços em políticas de direitos civis.

"THE IDEOLOGICAL ORIGINS OF THE DIRTY WAR"
AUTOR Federico Finchelstein
LANÇAMENTO Oxford University Press (importado)
PREÇO US$ 55 (232 págs.)


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