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Para radicais, minoria yazidi venera o Diabo

IGOR GIELOW DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em suas memórias romanceadas, "Encontros com Homens Notáveis", o místico greco-armênio George Ivanovitch Gurdjieff (1866?-1949) relata o convívio com meninos yazidis no Cáucaso de sua infância no fim do século 19.

Impressionava-o particularmente o fato de que, "adoradores do Diabo", os garotos não conseguiam deixar um círculo desenhado no chão em torno deles --espécie de tributo por outras liberdades concedidas pelo Tinhoso. Consultando acadêmicos, ouviu falar do conceito de histeria para explicar o que acontecia.

Seja como for, o relato publicado em inglês em 1963 retrata a curiosidade e o preconceito com que os yazidis são tratados. Minoria em áreas majoritariamente muçulmanas, os yazidis são perseguidos ao longo de séculos.

Há relatos de massacres promovidos pelos sultões otomanos nos séculos 18 e 19, desembocando no atual cerco promovido pelo Estado Islâmico no norte iraquiano.

O motivo é a crença popular, citada por Gurdjieff, de que eles "adoram o Diabo". Isso é derivado do culto yazidi a Melek Taus, nome anglicizado do "Anjo Pavão".

Na cosmogonia do grupo, oriunda do caldeirão étnico-cultural que abrange partes da Síria, Turquia, Iraque, Armênia e Geórgia, Deus criou o mundo e o colocou sob responsabilidade de sete arcanjos. Ao criar o homem, Deus ordenou, então, que eles se curvassem para Adão.

Melek Taus, o primeiro e mais sábio dos arcanjos, recusou-se porque sabia ser uma emanação superior do poder divino. Por isso, foi agraciado no que se revelou um teste de Deus, e acabou elevado ao panteão yazidi.

O problema é que o relato é similar ao do Alcorão para descrever a queda do espírito ("djinn") Iblis por recusar-se a honrar Adão. Em vez de ser promovido, ele virou ninguém menos que Shaytan, o Satã dos muçulmanos, cuja função teológica é semelhante à do Diabo cristão.

Para os yazidis, contudo, Melek Taus nada tem de mau. Ao contrário, é descrito como um esplendoroso pavão que encarna a sabedoria.

Mas isso é o suficiente para que os zelotes do Estado Islâmico busquem a destruição dos "adoradores do diabo"; estão em território iraquiano a maioria dos talvez 700 mil integrantes do grupo.

Como ocorreu no Afeganistão sob o jugo taleban (1996-2001), tradições religiosas centenárias são consideradas apostasias (renúncias à fé) puníveis com a morte.

A religião yazidi é um amálgama de crenças que traz elementos do zoroastrismo persa, do islamismo e do cristianismo. Há práticas como o batismo e cinco orações diárias, além de um intrincado sistema de tabus.


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