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Premiê aceita deixar o poder no Iraque
Após resistir por quatro dias, xiita Nuri al-Maliki renuncia ao cargo e manifesta apoio a sucessor, Haider al-Abadi
Decisão abre espaço para transição pacífica e formação de um governo de conciliação, como querem os EUA
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, anunciou, nesta quinta-feira (14), que deixará o cargo sem objeções, cedendo a pressões internas e externas.
Em pronunciamento na televisão local, Maliki manifestou apoio a seu sucessor, Haider al-Abadi.
"Eu anuncio que vou facilitar o movimento do processo político e a formação do novo governo", disse Maliki. "Retiro minha candidatura em benefício do irmão Dr. Haider al-Abadi."
O premiê disse ainda que sua renúncia refletia seu desejo de "salvaguardar os altos interesses do país".
A decisão foi divulgada um dia após Maliki ter mobilizado forças de segurança ao redor da capital, Bagdá, levantando o temor de que um golpe militar pudesse acontecer.
Haider al-Abadi havia sido indicado para ocupar o cargo pela coalizão xiita à qual pertence Maliki e nomeado primeiro-ministro pelo presidente Fuad Masum. Mas, durante dias, Maliki se recusou a deixar o poder.
Os aliados de Maliki o pressionaram para que ele desistisse de tentar um terceiro mandato. Seus oponentes o acusaram de querer monopolizar o poder e de governar apenas para os xiitas, alienando a minoria sunita.
O premiê também despertou insatisfação internacional, sobretudo dos Estados Unidos e do Irã.
Maliki estava no cargo desde 2006. Aceitando o fim do mandato, ele abre espaço para a primeira transição de poder pacífica, baseada em eleições e sem a participação militar americana.
SUCESSOR
O novo primeiro-ministro, Haider al-Abadi, terá mais 26 dias para formar seu governo, sob a expectativa de agradar não só à sua coalizão xiita mas também a curdos e, principalmente, a sunitas.
A construção de uma conciliação nacional é vista como fundamental, diante dos avanços do grupo radical Estado Islâmico sobre o território iraquiano.
O Conselho de Segurança da ONU pediu a Abadi que forme um "governo inclusivo, que represente todos os segmentos da população iraquiana e que contribua para encontrar uma solução viável e sustentável para os desafios atuais do país".
No mês passado, Abadi foi nomeado presidente do Parlamento iraquiano, para o qual foi eleito em 2005.
Ele pertence ao partido xiita Dawa --o mesmo de Maliki, a quem aconselhou durante anos.
Em 2006, quando o então presidente americano George W. Bush prometeu o envio de mais forças militares ao Iraque, Abadi foi contrário, dizendo que o governo não achava necessário.
No mesmo ano, externou preocupação com a tensão segregacionista no Iraque, exacerbada pela guerra decorrente da invasão dos EUA.
Durante parte do governo de Saddam Hussein, Haider al-Abadi viveu no exílio, em Londres.