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Degradada, Ferguson é 'uma Detroit menos devastada'

Cidade onde jovem negro foi morto por policial branco reproduz êxodo e abandono da antiga capital da indústria automobilística

Tensão diminui após onda de protestos, e governo do Missouri anuncia saída gradual de Guarda Nacional

RAUL JUSTE LORES ENVIADO ESPECIAL A FERGUSON

O McDonald's da avenida West Florissant virou um epicentro da cobertura dos distúrbios raciais na pequena Ferguson, Estado do Missouri, onde jornalistas e moradores buscam internet, tomadas, algo de ar-condicionado e refúgio do gás lacrimogêneo da polícia.

Mas ele já era um ponto de encontro de aposentados, crianças e muitos jovens da região, a mais pobre da cidade de 21 mil habitantes. Encontrar frutas ou alimentação saudável nesse deserto alimentar é raridade --os poucos restaurantes bons (e caros) estão a vários quilômetros dali. Sobram restaurantes fast-food e guloseimas por todos os lados.

A obesidade é comum (Michael Brown, 18, morto com seis tiros por um policial no dia 9, tinha 140 kg em 1,93 m), e quase 40% dos jovens negros entre 18 e 29 anos não têm emprego.

O desemprego na grande St. Louis é de 26% entre os negros, 6% entre os brancos.

Todos os ônibus circulando pela cidade avistados pela Folha tinham 100% dos passageiros negros --mas entre um e outro, a espera pode superar 40 minutos.

Como o nível de tensão após a morte de Brown diminuiu, o governo do Missouri anunciou nesta quinta-feira (21) a retirada gradual da Guarda Nacional da cidade.

ÊXODO BRANCO

Com o êxodo dos moradores brancos, altos índices de violência (enquanto eles estão em declínio acentuado no resto do país) e vários "vazios" urbanos, Ferguson e boa parte da região metropolitana de St. Louis lembram uma versão menos devastada de Detroit, a cidade que já foi capital mundial da indústria automobilística e hoje parece em ruínas.

Em 1990, 75% da população de Ferguson era branca; hoje representa apenas 29%. Tudo leva a crer que o êxodo branco vai continuar.

Detroit viu sua população encolher de 2 milhões nos anos 50 para os 700 mil de hoje. Grandes empresas foram para os subúrbios, e áreas centrais ficaram pobres. Após os distúrbios raciais de 1967, com o mesmo trinômio saques-incêndios-repressão policial pesada, a fuga continuou. Hoje, 80% da população de Detroit é negra, e dois terços trabalham nos subúrbios.

St. Louis já foi a quarta maior cidade americana, na virada do século 19 para o 20, abrigou a Olimpíada (e a Feira Universal) de 1904 e foi sede de gigantes como a Anheuser Busch (da cerveja Budweiser). Mas viu sua população encolher de 850 mil em 1950 para os atuais 318 mil (e continua a cair).

Metade é negra e mora no norte da cidade. Brancos e imigrantes (especialmente bósnios, vietnamitas e mexicanos), ao sul. Colonizada por escravocratas do Sul quando os EUA compraram a Louisiana da França, St. Louis teve conjuntos habitacionais separados para negros e brancos até os anos 50.

Quarta cidade mais violenta do país em número de homicídios (Detroit é a segunda), St. Louis viu o êxodo de sua população partir em busca de segurança em seus subúrbios. Ferguson era um típico subúrbio branco até meados dos anos 90.

Politicamente, a maioria negra da cidade não se manifesta ainda. A eleição do prefeito James Knowles, republicano e branco, teve comparecimento de apenas 12% dos eleitores da cidade.


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