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Análise

Dividir a região entre brancos racistas e negros revoltados é falsa dicotomia

AISHA SULTAN DO "ST. LOUIS POST-DISPATCH"

É difícil explicar as relações raciais na região metropolitana de St. Louis para alguém que nunca morou ali. É ainda mais difícil explicá-las para crianças que estão crescendo num país mais diverso e multirracial.

Ferguson, comunidade com 21 mil habitantes, é um subúrbio de St. Louis, um lugar onde a recuperação econômica passa ao largo dos pobres. Quase um quarto dos moradores vive abaixo do nível de pobreza, contra 15% em todo o Estado.

Nas últimas décadas, Ferguson sofreu um êxodo em massa dos brancos. Mas muitos dos que permaneceram no poder ainda são brancos, incluindo boa parte da força policial. Uma advogada local disse que sempre que vai a tribunais na zona norte do condado, os réus são negros e os policiais são brancos.

As imagens de Michael Brown morto, no dia 9, serviram como pavio para acender esse incêndio.

Os familiares de Brown disseram que a destruição de sua cidade natal é como sal esfregado em suas feridas. Quando protestos pacíficos viram a autoimolação de uma cidade, não há justiça para ninguém. O que resta é uma comunidade que não está acostumada a ser ouvida e está revoltada na esteira de tiros mortais da polícia.

Quando um adolescente negro e desarmado de 18 anos é baleado fatalmente, há perguntas que qualquer mãe e qualquer cidadão farão:

Por que o corpo de Brown foi deixado deitado no chão?

Por que um policial disparou tiros repetidos, sendo que Brown estava desarmado e tinha fugido? O que aconteceu naquela viatura? Por que Brown estava lá?

As circunstâncias da interação, o encontro entre um jovem negro e um policial naquele bairro, serão entendidas de modo totalmente diferente, dependendo da experiência de vida de cada um.

Para quem já foi alvo de desrespeito, desconfiança ou brutalidade, o impulso é acreditar que Brown tenha sido abatido brutalmente.

Para aqueles que têm medo cada vez que atravessam a divisa da cidade, provavelmente apenas para assistir a um evento esportivo, o rapaz deve ter feito algo para "merecer" o que lhe aconteceu.

Essas visões acompanham em grande medida a divisão racial. Enxergar esta região como sendo dividida entre brancos racistas e negros revoltados é uma dicotomia falsa, uma narrativa preguiçosa. Essa não é a realidade de muitos bairros e famílias daqui. Mas é a parte mais visível e ruidosa do discurso.

Como acontece com boa parte do país, St. Louis tem uma dificuldade inegável em discutir ou lidar com questões que envolvem raça.

Enquanto não pudermos contar a nossos filhos uma história mais honesta sobre a questão racial, continuaremos a ver tragédias.


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