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Clóvis Rossi

O 'arrocho salarial', cá e lá

Relatório do clubão de países ricos serve de alerta para o risco de adotar a austeridade como religião

Há um parentesco entre a mais recente avaliação sobre salários e emprego da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a pregação da campanha Dilma Rousseff contra "o arrocho salarial" que, segundo ela, será aplicado pela oposição.

É bom deixar claro que o que Dilma está fazendo é terrorismo eleitoral, típico de campanhas, como já se viu antes contra o PT e, agora mesmo, contra Paulo Skaf, praticado, neste caso, pela campanha do governador Geraldo Alckmin.

O que o dilmismo pretende demonstrar é que as políticas ortodoxas que estão nas agendas de Marina Silva e de Aécio Neves levariam a arrocho salarial e desemprego. Não é necessariamente verdade. Pode haver políticas de austeridade que preservem tanto o crescimento quanto emprego e renda.

Mas o relatório da OCDE (íntegra em oecd.org) deixa claro que o abuso na austeridade, como o que se pratica na Europa, pode, sim, ter efeitos colaterais daninhos.

Ste­fano Scar­pet­ta, di­retor de Em­prego da instituição, que é essencialmente liberal, diz que o prolongamento de congelamentos ou reduções salariais "pode ter repercussões importantes nos rendimentos dos lares, acentuando assim as dificuldades econômicas" (o que, de resto, é óbvio).

Diz Scarpetta que "novos ajustes salariais nos países mais afetados pela crise podem acabar sendo contraproducentes e, sobretudo em um contexto de inflação próxima de zero, poderiam ter eficácia limitada na criação de emprego". Podem ainda "acentuar o risco de pobreza" e "provocariam um círculo vicioso de deflação, queda do consumo e menos investimento".

É o que diz, com menos palavras e clareza, a campanha de Dilma.

É preciso deixar claro, no entanto, que a avaliação da OCDE é de uma economia, a europeia, que está estancada há anos, em que os juros são negativos e na qual há o risco iminente de deflação, ao passo que o Brasil cresce (pouco, mas cresce), corre o perigo inverso, o de estourar a meta de inflação, e tem juros indecentes.

O diagnóstico de Scarpetta não se aplica automaticamente ao Brasil, portanto. Mas vale como alerta para não tomar o ciclo econômico que se iniciará em 2015, mesmo que ganhe Dilma, com uma visão religiosa da ortodoxia/austeridade.

Pisar no freio de maneira abrupta, violenta ou prolongada gera efeitos nocivos. Basta olhar para os números da OCDE: o desemprego nos países da zona euro é, na média, de 11,2% (o dobro do patamar brasileiro). Os países que mais arrocharam salários (Grécia, Espanha e Portugal) são exatamente os que mantêm mais elevados índices de desemprego, superiores à média de seus pares (26,7% na Grécia, 23,9% na Espanha e 14,7% em Portugal).

Detalhe: em nenhum deles, houve redução substancial da dívida pública, uma das principais razões para a adoção dos pacotes de austeridade (e, no Brasil, para juros obscenos).

Terrorismo eleitoral à parte, o fundamentalismo de mercado, para usar expressão de George Soros, tende a ser mais problema que solução.

crossi@uol.com.br


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