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Museu em Hong Kong lembra massacre

Exibição dedicada a relembrar repressão na praça da Paz Celestial, em 1989, destoa de veto ao assunto na China

Direitos especiais à cidade permitem local; ativistas planejam novos atos contra ingerência de Pequim

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

Enquanto ativistas pró-democracia de Hong Kong se preparam para uma série de protestos contra o governo chinês, outros mantêm um desafio mais discreto à autoridade de Pequim --mas não menos contundente.

Numa pacata e escondida rua do movimentado centro de Hong Kong, funciona o Museu 4 de Junho, que relembra o massacre da praça da Paz Celestial, em 1989. Na China continental, o tema é proibido e a simples menção à data é censurada na internet. Mas na ilha está em exibição pública e permanente.

Quando o museu foi aberto, em abril, a ousadia causou sensação. Longas filas se formaram na porta do prédio onde, no quinto andar, funciona o pequeno museu.

Desde então, mais de 15 mil pessoas já visitaram o local. Metade deles da China continental, estima a administração. Incomodado com a atenção e temendo problemas com Pequim, o dono do prédio tentou despejar o museu. Os organizadores foram à justiça e estão brigando para ficar no local.

Com fotos, vídeos e recortes de jornais da época, o acervo é modesto, mas a ambição é enorme: romper o silêncio imposto por Pequim.

Na entrada, há uma reprodução da "deusa da liberdade", a estátua que os estudantes ergueram na praça da Paz Celestial antes de seu protesto ser esmagado pela repressão do governo, que deixou centenas ou milhares de mortos (o número oficial nunca foi divulgado).

Anônimas em Pequim, as vítimas ganham rostos e nomes no museu. Num vídeo jamais exibido na China, pais dos mortos contam a história dos filhos e exigem justiça. Um mural é ocupado pela imagem mais conhecida do protesto, do rebelde desconhecido que parou uma fileira de tanques logo depois do massacre.

A foto famosa tem sido usada pelos ativistas de Hong Kong como símbolo de resistência em sua campanha atual em defesa do voto livre para o chefe do Executivo do território. Para eles, as restrições impostas por Pequim à eleição, marcada para 2017, são mais um sinal do atropelamento chinês às liberdades civis em Hong Kong.

"Eu gostaria que a China se tornasse mais como Hong Kong, mas infelizmente está acontecendo o oposto", diz o técnico de informática Liao Chan, que saiu de Shenzhen, cidade chinesa vizinha de Hong Kong, para visitar o Museu 4 de Junho.

Ex-colônia britânica, Hong Kong retornou ao controle chinês em 1997, mas manteve o status de território semi-autônomo, com liberdades civis inexistentes na China continental. Segundo os ativistas, porém, a crescente interferência de Pequim está colocando em risco a fórmula de "um país, dois sistemas", adotada na transição.

A Federação de Estudantes de Hong Kong, que representa 14 universidades e faculdades do território, anunciou neste domingo (7) que fará um boicote de uma semana às aulas, em protesto contra as restrições eleitorais de Pequim. É a largada do que os ativistas chamam de "uma era de desobediência civil".

O movimento "Occupy Central", que há quase dois anos lidera as manifestações pelo direito ao sufrágio universal, fará um ato público nesta segunda-feira (8), feriado em Hong Kong, em que os organizadores rasparão a cabeça para marcar o início da nova fase de resistência.


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