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Análise

Horror do Estado Islâmico expõe conflitos sobre resgate de jornalistas sequestrados

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Os seguidos espetáculos de horror do Estado Islâmico (EI), com as execuções dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff, desvendaram uma realidade até então sob blecaute na cobertura ocidental.

Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), mais de 80 profissionais foram sequestrados desde que começou a guerra na Síria.

Eram 30 na virada do ano. Agora, com mortes e pagamentos de resgate, são 20.

O CPJ divulgou os números para pedir o fim da "prática conhecida como blecaute de mídia, em que organizações noticiosas suprimem informações sobre sequestro de jornalistas" no Oriente Médio e mundo afora.

Antes a organização apoiava a prática, por acreditar que ajudaria nas negociações de libertação, mas isso não se confirmou --e vem afetando a credibilidade da cobertura e o debate sobre as guerras.

Com a morte de Foley, há quase três semanas, começaram a vir a público não só números mas também detalhes sobre o pagamento de resgate por países ocidentais ao EI e a grupos ligados à Al Qaeda.

Na última semana, o Reino Unido cobrou publicamente que outros países europeus parem com os pagamentos. O EI ameaça decapitar agora um britânico --um escocês, às vésperas do plebiscito sobre a independência da Escócia.

Seriam três os principais alvos do questionamento do Reino Unido: a Itália, a Espanha, que teria pago ao EI para libertar dois jornalistas em maio, e a França, que teria pago ao mesmo EI por outros quatro, em junho.

Até os EUA estão sob suspeita, depois que a Frente al-Nusra, que atua na Síria sob orientação da Al Qaeda, libertou o jornalista Peter Theo Curtis em agosto, em acordo intermediado pelo Qatar.

A ineficiência do blecaute informativo sobre o sequestro de jornalistas e o conflito em torno do pagamento de resgate às escondidas não foram as únicas questões levantadas pelo horror do EI.

Foley, Sotloff e Curtis foram parar na Síria como freelancers, trabalhando por conta própria, recebendo relativamente pouco, sem apoio e proteção de estrutura mínima, por exemplo, de segurança.

O depoimento franco da editora que publicava textos de Sotloff no jornal israelense "Haaretz" expõe dilemas com a precarização dos correspondentes de guerra, escrevam eles para títulos estabelecidos ou sites recém-criados.

Um trecho: "Eu poderia ter dito a ele que cobrir como freelancer era mais perigoso. Cobrir a Síria tinha se transformado numa tal armadilha para sequestros que até grandes organizações estavam evitando mandar jornalistas".

Mas seu jornal, bem como as revistas "Time" e "Foreign Policy", ansiava pelos relatos de Sotloff. "Nós ficávamos sempre felizes de ter reportagens frescas, originais."

Ela resume assim "o dilema do editor": "Numa era de orçamentos cada vez menores para cobertura internacional, ter um jornalista num local quente mundial é o que todo editor deseja --e com que poucos podem arcar".

O quadro, alerta o CPJ, organização sediada em Nova York, não se limita à Síria ou ao Oriente Médio. Avança, entre outros pontos quentes, pela América Latina, com casos de execução de jornalistas do México ao Brasil.


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