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Entrevista - Diego Cánepa

É impossível voltar ao proibicionismo total da maconha

Secretário da presidência do Uruguai apoia venda da erva, mas diz que fará avaliações

DIEGO ZERBATO DE SÃO PAULO

Responsável pela implantação do mercado regulado de maconha no Uruguai, o secretário da Presidência, Diego Cánepa, não se refere à medida como legalização.

Se for seguido seu plano, uruguaios e residentes permanentes poderão comprar a erva em farmácias a partir de dezembro. No mês passado, o governo iniciou concessões ao cultivo residencial e aos clubes de consumidores, de até 45 pessoas.

Em entrevista à Folha no Salão do Livro de Guarulhos, Cánepa minimizou a venda da maconha legal a estrangeiros, proibida pela lei uruguaia e a comparou com a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos.

Mesmo assim, não acredita em uma reversão da lei em curto prazo, mesmo se a oposição assumir a Presidência após a eleição de outubro.

"Tenho certeza absoluta de que a política continuará e que teremos resultados que farão com que sumam muitos fantasmas."

Leia abaixo trechos da entrevista com Diego Cánepa:

Folha - Como estão os prazos da legalização...
Diego Cánepa - Não é legalização. O que nós criamos no Uruguai é um mercado regulado. Se você hoje produz maconha e vende fora do mercado legal é crime. Para nós, é um produto controlado em um mercado legal.

Há muitas críticas em relação a um projeto, como em relação à venda a estrangeiros. Como será esse controle?
Se um amigo seu compra e lhe dá, não é ilegal, mas com certeza há quem viole a lei. No Uruguai, é proibido vender bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. A lei é cumprida na maioria dos casos, mas não há um controle total. Se você me pergunta se os estrangeiros terão acesso, terão assim como acontece com a maconha ilegal.

Como fazer com que a maconha não passe pela fronteira?
Fizemos um grande investimento em um marcador genético que identifica na hora a droga uruguaia. Isso vai garantir a segurança e a boa relação com Brasil e Argentina.

Em algum momento, Brasil e Argentina foram consultados?
Foi uma decisão soberana. Assim como respeitamos as decisões soberanas dos dois países, eles também respeitam nossa decisão.

O governo uruguaio foi procurado por algum partido político brasileiro sobre o projeto?
Diretamente conosco não, mas se o Brasil ou qualquer outro país, como Inglaterra e Estados Unidos, quiser conhecer nossa experiência, nós estamos abertos para trabalhar em conjunto, em especial no aspecto científico.

O senhor acredita que o apoio de ex-presidentes da América Latina, como Fernando Henrique Cardoso, à legalização da maconha dá mais respaldo à iniciativa uruguaia?
Acho que está mudando a discussão sobre as drogas na região, mas enquanto eles defenderam a legalização quando já tinham saído do governo, Mujica o fez quando era presidente. Acreditamos que a repressão às drogas não funcionou. Agora vamos avaliar e, se a política não der certo em cinco anos, teremos que mudar novamente.

Embora o presidente José Mujica seja reconhecido por aprovar o aborto, o casamento gay e a legalização da maconha, seu partido perdeu espaço no Uruguai. O senhor acredita que essas questões interferiram na eleição?
Não tem nada a ver. Todas as políticas, exceto a maconha que é mais discutível, têm um apoio muito grande nas pesquisas. O que temos são novos desafios, uma nova classe média e jovens que pensam no futuro.

[O candidato da oposição à Presidência] Luis Lacalle Pou aprova o cultivo em casa, mas quer derrubar o resto da lei. O senhor acha isso possível?
Não acho que ele possa mudá-la. Todos sabemos que voltar ao proibicionismo absoluto é impossível. Tenho certeza absoluta de que essa política continuará e que teremos resultados que farão cair muitos fantasmas.

A maioria da população é contrária ao projeto, embora tenha sido aprovado pelo Congresso. Poderia ter sido feito um referendo?
Os que queriam um referendo não conseguiram aprová-lo. Há pesquisas que mostram que a maioria quer esperar os resultados da lei. Não vai haver mudanças, a medida vai continuar.


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