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Matias Spektor

Se Dilma fica

Pela 1ª vez em muito tempo, temos uma sociedade mais moderna do que a política externa que a representa

Dilma herdou o arcabouço diplomático que temos hoje. Diferentemente de Lula, porém, ela nunca concebeu a diplomacia como alavanca política para o projeto de poder que representa. Dito isso, qual o enredo de política externa num segundo mandato?

A imagem do governo brasileiro no mundo está em baixa. A pauta inclui má gestão e corrupção, combinação nefasta que, vitimando a Petrobras, principal multinacional do país, joga luz sobre as muitas fragilidades do processo brasileiro de ascensão.

O projeto sul-americano também vai mal. Apesar dos êxitos inegáveis da Unasul e da resiliência do Mercosul, o pleito brasileiro por mais poder, prestígio e influência numa vizinhança cooperativa e pacífica fraqueja. Os problemas fervem a fogo brando, mas são realidade em Quito, La Paz, Lima, Assunção e Montevidéu.

Vai mal também a recepção da política externa na sociedade brasileira. Assim como ocorreu em governos anteriores, a diplomacia de Dilma paga pedágio às forças do atraso, conforme vimos esses dias no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Só que, diferentemente do passado, a tolerância social é declinante. Junho de 2013 ainda não acabou, e uma vitória acachapante de Dilma nas urnas será insuficiente para pôr um fim ao problema.

Pela primeira vez em muito tempo, temos uma sociedade mais moderna do que a política externa que a representa.

Vide a dificuldade do governo em alinhar sua política externa ao objetivo de eliminar nossas mazelas: os 55 mil homicídios, os crimes homofóbicos, a brutalidade das polícias, as prisões medievais e a progressiva transformação do porto de Santos em polo exportador de ilícitos, com seus efeitos brutais sobre a insegurança urbana.

No front interno, um segundo mandato terá de lidar com o chamado sucateamento do Itamaraty. Esta Folha noticiou uma inédita carta coletiva de terceiros secretários do ministério. Nos últimos meses, houve também mobilização impressionante dos oficiais de chancelaria. E até mesmo um grupo da categoria de conselheiros se manifestou. Há diferenças entre essas demandas, mas todas denunciam anacronismo, resistência à inovação e falta de apoio para a execução da política externa.

Vale ainda notar o trabalho conjunto de intelectuais e ONGs unidos sob a sigla GR-RI. Alinhado à política externa lulista, esse grupo propõe a criação de um mecanismo de participação popular nos moldes de um grande conselhão. No entanto, a iniciativa corre o risco de esvaziamento, como ocorreu com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Corre risco maior de ter as deliberações tuteladas pelo governo, perdendo qualquer caráter de democracia participativa real.

Tudo isso importa porque os próximos quarenta e oito meses serão duros para a diplomacia brasileira, independentemente da chapa vitoriosa nas urnas deste mês. Na vizinhança, o esgarçamento do chavismo e a sucessão do kirchnerismo. No mundo, a reconcentração do poder americano e uma economia política global que tende a dificultar nossa saída da recessão.


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