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Clóvis Rossi

Século de quem mesmo?

Visita de líder indiano aos EUA serve de sinal para que a futura governante do Brasil restabeleça as pontes

Era uma vez um tempo em que um entusiasmado presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmava, em cada uma de suas inúmeras viagens ao exterior, que o século 21 seria o século da América Latina.

Bons tempos aqueles para a imagem do subcontinente. Agora que há mais sombras que luzes no horizonte, um outro líder voluntarioso, o indiano Narendra Modi, declara aberto "o século da Ásia", em visita aos Estados Unidos recém-encerrada.

Modi teve tratamento de pop-star em Nova York, em uma recepção no Madison Square Garden, a que compareceram cerca de 18 mil indianos residentes nos Estados Unidos.

Enquanto isso, no Brasil, política externa é um tema completamente ausente da campanha eleitoral. E Dilma Rousseff, de novo favorita para reeleger-se, mostra a língua para os Estados Unidos, em sua recente estada na mesma Nova York em que Modi brilhou.

É uma pena.

Afinal, o próprio chanceler de Dilma, Luiz Alberto Figueiredo, diz a quem quiser ouvir que manter boas relações com os Estados Unidos é importante para qualquer país (sério) do mundo.

Tudo bem que Dilma tenha reagido com a altivez devida à espionagem praticada pelos Estados Unidos e revelada por Edward Snowden. Tudo bem também que tenha posto o assunto no congelador por causa da campanha eleitoral.

Mas, superada esta, o ideal seria remarcar urgentemente a visita de Estado suspensa no ano passado por causa da espionagem.

Modi tinha até mais motivos para ficar de mal com os EUA: seu visto foi cassado anos atrás pela suposta (ou real) omissão no massacre de muçulmanos no Estado (Gujarat) que então governava (2002).

No entanto, foi aos Estados Unidos e até assinou um artigo junto com Barack Obama que poderia valer para a relação Brasil-Estados Unidos.

"Nossa parceria aspira a ser maior do que meramente a soma das partes, (...) nossa parceria estratégica também (deve) produzir benefícios para o mundo em geral."

Modi não precisou curvar-se aos desejos dos Estados Unidos para fazer sucesso. Não se comprometeu, por exemplo, a aderir à coalizão que está atacando o Estado Islâmico.

Nem cedeu nas questões comerciais em que Índia e Estados Unidos têm sérias discrepâncias.

O eixo de sua visita --como, de resto, tem sido a praxe na diplomacia presidencial (de primeiro-ministro no caso)-- foi a busca de recuperar investimentos norte-americanos na Índia, que caíram 60% nos cinco anos mais recentes. "Venham antes que seja tarde", disse aos empresários com os quais se reuniu.

Como a Índia, o Brasil também mantém "parceria estratégica" com os EUA, que não foi revogada pelo caso da espionagem (apenas arranhada, assim mesmo levemente).

Logo, seria de elementar bom senso que Dilma (ou qualquer que seja a próxima ou próximo presidente) cuide rapidamente de seguir o exemplo de Modi, cujas impecáveis credenciais nacionalistas não o impedem de ter sentido comum.

O Brasil é suficientemente maduro para não precisar bater o pezinho para se afirmar internacionalmente.

crossi@uol.com.br


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