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Ativistas de Hong Kong desistem de diálogo com governo

Manifestantes acusam autoridades pró-Pequim de usar gangues criminosas para causar confusão nas ruas

Por brigas e agressões, movimento pró-democracia abre mão de negociações com o chefe do Executivo local

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

O clima pacífico dos últimos dias nos protestos pró-democracia em Hong Kong foi gravemente abalado nesta sexta-feira (3), quando uma série de confrontos fez ir por água abaixo as perspectivas de negociação entre ativistas e o governo.

Os manifestantes acusam as autoridades de usar agitadores ligados a gangues criminosas para perturbar os protestos, num plano destinado a justificar uma ação policial mais severa contra o movimento pró-democracia.

As ruas voltaram a ficar lotadas de manifestantes na manhã deste sábado (4), quando a polícia de Hong Kong afirmou ter prendido 19 pessoas, algumas ligadas às gangues.

A explosão de violência elevou a um novo patamar a tensão no território chinês, que parecia estar em queda depois que o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, propôs dialogar com os manifestantes, na quinta-feira (2).

O principal foco dos confrontos foi o distrito de Mong Kok, uma área turística e residencial onde concentram-se as operações da gangue conhecida como Tríade. Segundo os ativistas que bloqueavam um cruzamento central da região, membros da gangue se infiltraram no protesto e partiram para a agressão, fingindo ser residentes insatisfeitos com a paralisação.

"É gente paga pelo governo", disse à Folha o estudante Desmond, 21, que formava um cordão de isolamento com outros ativistas em Mong Kok para impedir a chegada dos opositores. Apesar da forte presença policial, várias pancadarias ocorreram ao longo do dia, deixando pelo menos 18 feridos.

Furioso, um homem de cerca de 50 anos gritava com os manifestantes.

"Isso é uma estupidez, vem com essa besteira de democracia e estão causando enorme prejuízo econômico a Hong Kong", esbravejou Fu Chao, que disse ser comerciante em Mong Kok e negou as acusações de que estava ali a serviço do governo. "Isto aqui é a China, quem não está satisfeito que se mude".

O movimento pró-democracia rejeita a crescente interferência do governo chinês no território, que retornou ao controle de Pequim em 1997, depois de 150 anos de domínio britânico. O estopim foi a decisão do Partido Comunista chinês, há pouco mais de um mês, de impor restrições à eleição do próximo chefe do Executivo de Hong Kong, marcada para 2017.

A violência em Mong Kok levou os estudantes que lideram os protestos a suspender o início do diálogo proposto pelas autoridades.

"O governo e a polícia são coniventes com os ataques da Tríade aos manifestantes pacíficos, e desta forma eles fecharam o caminho para o diálogo e devem arcar com as consequências", acusou a Federação de Estudantes de Hong Kong, em comunicado.

Embora os manifestantes admitam que muita gente está insatisfeita com o incômodo causado pelo bloqueio de ruas, que já dura mais de uma semana, eles dizem que há claros indícios de que os confrontos foram causados por agitadores, entre eles o fato de vários deles estarem mascarados. Várias manifestantes afirmaram terem sofrido assédio sexual no meio da densa multidão em que ocorreram os confrontos.

Na sede do Legislativo, membros do movimento debatiam os próximos passos numa tensa reunião. "Não há mais clima para negociar", disse à Folha o professor Benny Tai, um dos fundadores do grupo "Occupy Central", que criou a ideia de parar o centro de Hong Kong.


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