Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vaticano faz reunião para discutir temas polêmicos

Encontro de bispos da Igreja Católica deve debater comunhão de divorciados

Reunião extraordinária sucede consulta de papa Francisco sobre temas como aborto e relações homossexuais

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cerca de 200 bispos do mundo todo se reúnem no Vaticano, a partir deste domingo (5), para o encontro mais importante do pontificado do papa Francisco até agora.

Os prelados vão discutir os desafios que a Igreja Católica enfrenta para transmitir sua mensagem às famílias de fiéis, e uma das possibilidades é que haja mudanças na maneira como a instituição lida com os católicos que são divorciados.

Para ao menos alguns participantes da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos (órgão da hierarquia católica que mais se aproxima de um parlamento), é preciso alterar as atuais regras disciplinares da Igreja Católica.

Hoje, as normas vetam aos fiéis divorciados e que se casaram de novo o acesso à comunhão. Como esse é o principal sacramento do catolicismo, tais fiéis muitas vezes se sentem, na prática, excluídos da Igreja.

A decisão sobre uma eventual mudança, se ocorrer, só virá no ano que vem, quando o Sínodo dos Bispos se reunirá mais uma vez em Roma.

Mas o debate sobre o tema já deflagrou divergências entre pesos-pesados da hierarquia católica, opondo, por exemplo, os cardeais alemães Walter Kasper e Gerhard Ludwig Müller.

No começo deste ano, falando aos cardeais reunidos no Vaticano, Kasper propôs alterações disciplinares, sugerindo que seria possível seguir o exemplo dos cristãos ortodoxos e de certas práticas da Igreja primitiva.

De acordo com Kasper, seria possível readmitir os católicos divorciados à comunhão após um período penitencial, por exemplo. O raciocínio teológico de Kasper chegou a ser elogiado pelo papa Francisco.

Já o cardeal Müller, pupilo do papa emérito Bento 16 e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, criticou publicamente o conterrâneo e, junto com outros quatro cardeais, publicou um livro atacando as teses de Kasper.

O clima de "Fla-Flu" deriva, em parte, do próprio incentivo ao debate aberto feito por Francisco. Quando a assembleia do sínodo foi anunciada no ano passado, o Vaticano pediu que católicos do mundo todo, por meio de seus bispos, respondessem a um questionário sobre temas como divórcio, aborto, relacionamentos homossexuais e anticoncepcionais, entre outros temas polêmicos para a Igreja.

DEBATE ABERTO

"Pelo que a gente via em sínodos anteriores, o script era mais fixo. A atitude de mandar cartas e pedir sugestões diferencia o pontificado de Francisco dos mais recentes e lembra, de alguma maneira, João 23 [grande papa reformista dos anos 1950 e 1960]", diz Rodrigo Coppe Caldeira, especialista em história do catolicismo da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais.

Para o especialista, embora a atitude do papa tenha estimulado o debate, as posições dos participantes --além dos chefes dos dicastérios (departamentos) do Vaticano, haverá representantes de todas as conferências nacionais de bispos do mundo-- já chegam ao sínodo muito marcadas, o que pode dificultar que os religiosos cheguem a um consenso.

"Por isso, além do debate sobre os temas do sínodo propriamente ditos, acho que é importante ficar atento ao papel que o papa terá nos debates. Ele é alguém que costuma se referir a si mesmo como bispo de Roma, que defende que os bispos ao redor do mundo tenham um papel mais ativo nas decisões da Igreja. Será interessante ver como ele segura essa onda", diz Caldeira.

Francisco sinalizou ter alguma simpatia pela situação dos católicos divorciados, mas ainda não marcou posição de forma clara. Por outro lado, os contrários a qualquer mudança são os que mais têm se manifestado.

ANULAÇÃO

Uma terceira possibilidade, segundo o vaticanista americano John Allen Jr., do jornal "Boston Globe", seria facilitar o atual processo de anulação de matrimônios, que declara que certas uniões nunca foram válidas, por motivos como a falta de compreensão dos noivos sobre a doutrina católica.

A assembleia do sínodo vai até o próximo dia 18, quando os bispos participantes aprovarão, por meio de votação em plenário, o documento final da reunião.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página