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E nós com isso?

Vença quem vencer a eleição, cresce expectativa de avanço em projetos entre Brasil e EUA

A dispensa de vistos depende de ajustes na lei dos dois países e não deve vir antes de 2014

LUCIANA COELHO DE WASHINGTON PATRÍCIA CAMPOS MELLO ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON E BRASÍLIA

Maturidade da relação entre os EUA e o Brasil leva a crer que nenhum resultado nas urnas americanas nesta terça alterará significativamente o que boa parte de seus observadores descreve como um "casamento sem paixão".

Com a elevação do Brasil a sócio cobiçado, porém, cresce a expectativa pela aceleração de projetos há anos no forno, afirmaram à Folha diplomatas, empresários, políticos, assessores de campanha e outros protagonistas das relações bilaterais.

Mais do que pela Casa Branca, o avanço passa pelo Congresso, que deve continuar dividido -e polarizado- entre republicanos, na Câmara, e democratas, no Senado.

"Somos aliados naturais, mas deveríamos ser ainda mais próximos", diz o deputado Devin Nunes, republicano da Califórnia que integra o Brazil Caucus, grupo dedicado ao país no Legislativo.

"A relação é prejudicada por disputas comerciais e tarifárias, sobretudo a do algodão, e um histórico de suspeita de um lado sobre outro que demorará a ser superado."

Dos 21 projetos de lei citando o Brasil que tramitam hoje nos EUA, 7 tratam dos pagamentos compensatórios selados com a vitória brasileira na OMC contra os subsídios americanos ao algodão.

Seis abordam a mútua isenção de vistos turísticos.

Sob o governo Barack Obama, o processo para obter o documento foi facilitado e se criou um grupo bilateral focado no fim da exigência.

A dispensa, todavia, depende de ajustes na lei dos dois países e da mudança dos parâmetros americanos -o que, segundo assessores dos dois candidatos à Presidência, não viria antes de 2014.

Um segundo pleito do empresariado, o fim da dupla cobrança de impostos sobre cidadãos e empresas de um país que atuem no outro, enrosca no Brasil. Na agenda bilateral há 40 anos, o projeto precisa que o Senado brasileiro aprove um acordo de troca de informações tributárias.

Nem todas as expectativas, no entanto, são de avanço.

Em Washington, diplomatas e lobistas brasileiros temem a volta da sobretaxa contra o etanol do país.

Assombra também a aprovação da emenda Rivera, inspirada em uma lei da Flórida que pune empresas com negócios em países considerados párias nos EUA (caso de Cuba e Irã) e prejudicaria brasileiras como a empreiteira Odebrecht.

AÇÃO PRESIDENCIAL

Se a composição do Congresso interessa ao Brasil, a disputa pela Casa Branca é acompanhada sem maior preocupação em Brasília.

A população tem seu preferido -72% dos brasileiros dizem torcer por Obama, segundo pesquisa feita pelo centro Pew-, mas, para o Itamaraty, tanto faz o vitorioso.

"Com Obama, já sabemos qual é a política externa, melhor do ponto de vista global; com [o republicano Mitt] Romney, há perigo de um retorno à agenda unilateralista, mais agressiva com o Irã", diz uma fonte do Itamaraty.

Segundo um assessor do republicano, afastar-se de Teerã seria a condição para uma Casa Branca republicana apoiar a demanda brasileira por uma vaga fixa no Conselho de Segurança da ONU (em um novo mandato de Obama, o apoio seguiria no limbo).

Em qualquer caso, o entusiasmo deve ser dosado.

"O Brasil está ausente desta campanha, ele só aparece ao lado da América Latina encarado como um mercado [consumidor]", diz Donna Hrinak, presidente da Boeing no Brasil e ex-embaixadora dos EUA no país.

LIVRE-COMÉRCIO

Mesmo um acordo de livre- comércio não está em vista -o Brasil teria de conciliá-lo com o Mercosul, que agora comporta a Venezuela, em fricção com Washington.

Tampouco o ritmo da aproximação é consenso.

Presidente do Conselho Empresarial Brasil-EUA, o americano Greg Page, da Cargill, quer acordo bilateral abrangente, com mercado aberto e liberação de compras governamentais.

O brasileiro Frederico Curado, que preside a Embraer, prefere o gradualismo. "Não apoiamos um acordo como a Alca [a finada Área de Livre Comércio das Américas], e sim etapas que facilitem o comércio."

Ainda assim, o ceticismo não freou uma mudança notável na equação de investimentos bilateral.

Na conta do Banco Central, empresas brasileiras investem hoje nos EUA US$ 1 para cada US$ 4 postos por americanas no país. Em 2000, era US$ 1 brasileiro para US$ 47,20 americanos.

O fluxo continua resvalando na falta de foco dos governos ante a miríade de iniciativas bilaterais mornas (dez só em economia e comércio). "O problema hoje", diz Pablo Bentes, diretor de comércio internacional e investimento no escritório americano especializado em litígio comercial Steptoe & Johnson, "é que o setor privado está fervendo, e os governos não estão tão quentes assim."


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