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Filme estatal promove 'mito de Kirchner'

"Néstor, La Película", produzido com verba do governo da Argentina, estreia hoje em 120 salas em todo o país

Obra apresenta marido de Cristina, morto em 2010, como herói da recuperação econômica e ataca Grupo Clarín

SYBILLE DE LA HAMAIDE DE BUENOS AIRES

Néstor Kirchner gostava de fazer chifrinhos em quem o acompanhava quando saía numa foto ou filmagem. Também derrubava os soldadinhos do filho, Máximo, quando este era pequeno.

Achava que nunca ia conquistar Cristina, porque ela era "a mais linda da turma", e ele, apenas um meninão grande e desengonçado.

As anedotas estão em "Néstor, la Película", que estreia hoje em 120 salas do circuito comercial na Argentina, em meio à queda abrupta de popularidade de Cristina, sua sucessora.

Financiado pelo Incaa (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais), com recursos do Estado, a produção é uma obra laudatória e festiva sobre a trajetória do ex-presidente (2003-2007), que morreu de um ataque cardíaco em outubro de 2010.

Os detalhes curiosos e pitorescos como os descritos acima abundam. Mas faltam, por outro lado, informações sobre seu passado como governador de Santa Cruz, as denúncias de enriquecimento ilícito e suas manobras para aliar-se com os meios locais. Nenhum ponto negro de sua biografia é abordado, e o filme, maniqueísta, aposta na construção heroica do ícone máximo do kirchnerismo.

A diretora, Paula de Luque, que dirigiu "Juan e Eva", filme chapa-branca sobre a história de amor entre Perón e Evita, foi a encarregada de terminar o filme depois que o diretor original foi afastado. O uruguaio Adrian Caetano ("Crônica de uma Fuga") ficou fora por diferenças com os produtores ultrakirchneristas da fita.

Predominam, no documentário, imagens dos discursos e atos públicos de Kirchner. O roteiro tem como fio condutor a ideia de que o ex-presidente foi o único responsável pela reconstrução da economia argentina no período pós-crise de 2001.

Os nomes do ex-presidente Eduardo Duhalde e do ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, considerados fundamentais na recuperação do país, são tocados apenas de passagem.

Imagens de Kirchner falando de prosperidade e progresso contrapõem-se às da confusão e violência nas ruas durante aqueles dias. O objetivo é mostrar que com seu governo veio a paz social.

A música é de Gustavo Santaolalla, ganhador de dois Oscar por trilhas sonoras, parceiro do brasileiro Walter Salles -foi o responsável pela música de "Diários de Motocicleta" e "On the Road".

Também é bastante reforçada, no filme, a tese, contestada, de que Kirchner e Cristina foram militantes antiditadura. Segundo o que se conhece de sua história, o casal refugiou-se em Santa Cruz, na Patagônia, durante os anos de chumbo (1976-1983). Ambos refutam essa tese e dizem que participaram ativamente do movimento de resistência, o que nunca conseguiram provar.

No filme, Kirchner é mostrado ao lado das Mães e Avós da Praça de Maio e fazendo discursos pró-direitos humanos. Familiares, amigos e políticos asseguram que Kirchner foi um ferrenho militante cheio de ideais.

A produção ataca jornais independentes, principalmente o "Clarín", em conflito aberto com o governo, e faz uma defesa da Lei de Mídia, projeto de Kirchner e Cristina aprovado em 2009 que visa limitar monopólios de empresas de comunicação.

Estrategicamente, o filme é lançado a apenas três semanas do chamado 7D, data estipulada pela Justiça para que o grupo Clarín se ajuste à legislação, acatando cláusulas antimonopólio e abrindo mão de parte de suas licenças.

"Néstor, la Película" é lançado com pompa. No sábado, houve uma exibição do filme com festa no Luna Park, principal local de espetáculos de Buenos Aires. A data não foi por acaso:17 de novembro é o Dia da Militância Peronista, e o local foi onde Kirchner fez sua última grande aparição antes de morrer.


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