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Cotada para diplomacia foi dura com Brasil

Susan Rice, favorita para ser futura secretária de Estado, teve atrito com país por causa de negociação com o Irã

Para tomar conta das negociações comerciais, cotado é Mike Froman, que cobrou do Brasil comprar mais dos EUA

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

O gabinete para o segundo mandato do presidente Barack Obama, reeleito no início do mês, pode trazer surpresas desagradáveis ao Brasil.

A começar de um dos postos mais importantes, o de secretário de Estado. Com a anunciada saída de Hillary Clinton, a favorita é Susan Rice, hoje embaixadora americana na ONU.

Rice é conhecida por ser briguenta e, ironicamente, pouco diplomática.

A percepção na diplomacia brasileira é que ela "jogaria duro" com o país. Nas Nações Unidas, ela bateu de frente com o Brasil.

Uma das rusgas foi o acordo de troca de combustível nuclear costurado pelo Brasil e pela Turquia com Teerã em 2010, na tentativa de evitar que novas sanções fossem aplicadas contra o Irã -o que aconteceu pouco depois, a despeito da oposição brasileira que votou contra, para extrema irritação dos EUA.

Mas os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham já afirmaram que pretendem bloquear a confirmação de Rice no Senado.

O cargo, apesar de ser uma indicação do presidente, precisa de confirmação da maioria dos senadores.

Os republicanos querem vetar Rice por causa de sua reação ao atentado ao consulado americano em Benghazi, na Líbia, que levou à morte do embaixador dos EUA no país, Chris Stevens.

Rice foi a programas de TV e disse que o ataque era decorrência de protestos espontâneos contra um vídeo de sátira a Maomé, e não um atentado terrorista premeditado.

Legisladores acham que ela tentou encobrir o envolvimento da Al Qaeda por medo de consequências eleitorais, ou simplesmente estava muito mal informada.

Em meio às difíceis negociações fiscais que devem dominar o fim deste ano e o início do próximo, Obama pode preferir evitar um embate no Senado.

O segundo nome mais cotado é do senador John Kerry, líder da Comissão de Relações Exteriores no Senado.

Kerry nunca escondeu que adoraria ser secretário de Estado, mas perdeu o cargo para Hillary no primeiro mandato de Obama.

Desta vez, o que atrapalha Kerry é justamente a importância de sua vaga no Senado -se ele assume como secretário de Estado, haverá uma eleição especial no Estado de Massachusetts, com a possibilidade do republicano Scott Brown ganhar e diminuir a maioria democrata no Senado.

Kerry tem alguma afinidade com o mundo lusófono -sua mulher, Teresa Heinz Kerry, é moçambicana de pais portugueses. "E, a julgar por sua performance na Comissão de Relações Exteriores, Kerry é bem conectado com o novo papel dos emergentes no cenário mundial", diz Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV e colunista da Folha.

COBRANÇA

Outro cargo que pode definir o tom da relação com o Brasil é o de Conselheiro de Segurança Nacional. Atualmente, Tom Donilon ocupa a função e pode se manter lá. Mas existe a chance de ele assumir como chefe de gabinete de Obama.

É um cargo que não precisa de confirmação do Senado, então pode ser uma alternativa para a própria Susan Rice, caso não vá para a secretaria de Estado.

Já o cargo de titular do Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) perdeu um pouco da importância desde que Robert Zoellick o ocupou (2001-2005).

Hoje, é ocupado por Ron Kirk, um ex-prefeito de Dallas sem brilho próprio e pouquíssimas realizações para mostrar. Os acordos de livre-comércio com Colômbia, Panamá e Coreia foram aprovados pelo Congresso no governo Obama, mas foram assinados no governo Bush filho.

"Certamente, será alguém mais forte que o Kirk. O Kirk ficou esses anos apenas esquentando a cadeira, pois a política comercial da administração ficou concentrada em dobrar exportações e abrir casos contra a China na OMC", diz um especialista que acompanha o setor.

Um dos nomes cotados para o posto é Mike Froman, vice-conselheiro de segurança nacional para assuntos econômicos internacionais.

Froman esteve no Brasil com Obama em 2011. Na época, trouxe a mensagem da Casa Branca de que o aumento das exportações americanas para o Brasil é peça essencial para a recuperação da economia dos EUA.

Essa meta de aumentar exportações para o Brasil a qualquer custo gera atritos com o governo Dilma, que se queixa do deficit comercial que o Brasil mantém com os EUA nos últimos anos e que chegou a US$ 8,157 bilhões em 2011.

SÍNDICO

O novo representante comercial terá como prioridade número um a Parceria Trans-Pacífico (PTP), que inclui Austrália, Vietnã e Nova Zelândia e também México, Chile e Peru.

A PTP cristaliza a guinada da política externa dos EUA para o eixo Ásia-Pacífico. E bate de frente com as ambições brasileiras de integração da América do Sul. "O Brasil corre o risco de ficar isolado como síndico do condomínio dos bolivarianos", diz um diplomata brasileiro.

O secretário de Defesa, Leon Panetta, de 74 anos, já disse que está cansado de voar de volta para sua casa, na Califórnia, todos os finais de semana. A aposta é que Panetta fique no cargo até o meio do ano que vem, no máximo. O senador John Kerry poderia herdar a pasta.


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