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Analistas pedem que EUA se joguem no 'abismo fiscal'
Caso não haja ajuste de contas até 31 de dezembro, país terá de fazer cortes em programas sociais e na Defesa
Para alguns, enfrentar o abismo pode colocar os EUA em um "trilho sustentável" dentro de alguns anos
A dificuldade de acordo entre o governo e a oposição nos EUA para domar a dívida federal começa a alimentar um coro dissidente: o dos que defendem que o país se jogue no chamado "abismo fiscal", como quem faz um tratamento dolorido para curar uma doença potencialmente fatal.
Com uma dívida de US$ 16 trilhões que superou neste ano o PIB do país, enuncia-se para os dois primeiros dias de 2013 um choque fiscal.
Caso não haja acordo para um ajuste equilibrado até 31 de dezembro, serão disparados cortes drásticos e genéricos na Defesa e nos programas sociais do governo, determinados em 2011 como salvaguarda para o caixa e a credibilidade externa dos EUA se a negociação para conter o deficit voltasse a falhar.
Simultaneamente, expiram benefícios tributários que vigoraram para a classe média e a classe alta na última década. Sem acordo, eles não serão estendidos -o que implicaria em aumento da alíquota de impostos entre três e cinco pontos percentuais.
O cenário, que pode jogar os EUA na recessão e aumentar o desemprego, é descrito como calamitoso pelo banco central americano e pela maioria dos analistas. O tom, porém, começa a mudar.
"Idealmente, presidente e Congresso concordariam em estimular a economia agora e implementar uma consolidação fiscal gradual e equilibrada ao longo da próxima década", escreveu na quinta William Gale, codiretor do Centro de Política Tributária Urban-Brookings, ligado ao instituto de mesmo nome.
"Ainda assim, passar pelo abismo pode ser a única forma de atingir esse objetivo."
Para Gale, o choque seria o único meio de elevar a arrecadação, já que 90% dos congressistas republicanos fizeram juramento anti-imposto.
EQUAÇÃO DA DISCÓRDIA
Embora alguns ensaiem um recuo, o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, reiterou na sexta que, mesmo que a oposição aceite o aumento da arrecadação no pacote, ela freará uma alta das alíquotas.
Sua proposta é limitar deduções, o que exigiria cortes profundo nos gastos sociais, que o governo rejeita.
"Cair no abismo se opõe a empurrar com a barriga. Faria o trabalho duro de reformar o Orçamento elevando a receita, cortando gastos e pondo o país em um trilho sustentável", alega Gale.
"Os políticos poderiam negociar outras mudanças, mas partindo de outro ponto", explica, aludindo ao impasse.
O respeitado Escritório Orçamentário do Congresso (CBO, em inglês), entidade apartidária que produz relatórios financeiros para o Legislativo, calcula que a economia do país, que cresceu 2,7% no último trimestre, encolheria 0,5% em 2013 e que o desemprego, hoje em 7,9%, subiria a 9,1% com o abismo.
Mas após o próximo ano, o crescimento seria retomado, o mercado de trabalho ganharia força, com aumento de produtividade, e o desemprego poderia cair para 5,5% em 2018, nível pré-crise.
"As [atuais] reduções nos impostos e o aumento de gastos em 2013 poderiam ter benefícios econômicos de curto prazo, mas pesariam sobre a uma dívida já grande", escrevem os analistas do CBO.
"A política atual levaria a um nível insustentável de dívida e, em algum momento, os políticos precisariam adotar medidas que exigirão das pessoas pagar significativamente mais impostos ou aceitar significativamente menos benefícios e serviços do governo. Ou ambos."