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'Entrava escondida no palácio', lembra filha de Mitterrand

Mazarine Pingeot, fruto da relação do ex-presidente francês com amante, lança livro com memórias da infância

Ela entrava pela porta dos fundos do Eliseu, mas seu pai a ninava quase todas as noites quando era mandatário

MAIA DE LA BAUME DO “NEW YORK TIMES”, EM PARIS

Ela costumava entrar sorrateiramente no Palácio do Eliseu para ver seu pai, o presidente da França, por uma porta dos fundos que levava diretamente aos aposentos particulares dele. No inverno, eles jantavam juntos na biblioteca, ao lado da lareira.

Mazarine Pingeot é filha de François Mitterrand e Anne Pingeot, sua amante durante anos. Durante boa parte da juventude dela e por todos os 14 anos da Presidência de Mitterrand, a existência dela foi um segredo de Estado.

Mitterrand iniciou sua vida dupla muito antes de ser eleito presidente, mas a existência da segunda família foi revelada apenas perto do final de sua carreira política.

Menos de um ano depois de deixar a Presidência, em 1995, ele morreu de câncer. Anne e Mazarine Pingeot compareceram ao funeral ao lado da esposa de Mitterrand, Danielle, e seus dois filhos.

Durante a Presidência, Mitterrand viveu com Danielle em sua residência na margem esquerda do Sena. Mas passava a maioria das noites com Anne, que era curadora do Museu d'Orsay, e Mazarine.

Em 1984, quando era presidente, Mitterrand reconheceu legalmente sua filha, mas o fato foi mantido em segredo.

Mazarine, hoje com 37 anos, vivia com sua mãe num apartamento pertencente ao Estado francês, sob a proteção de guarda-costas do governo. Foi apenas em 1994 que a história veio a público, quando a revista "Paris Match" publicou fotos dela com o pai.

No mês passado, Pingeot lançou o diário "Bon Petit Soldat" ("Bom Soldadinho", em francês), que inclui memórias de sua infância na condição de segredo de Estado. Segundo ela, é mais uma tentativa de elucidar os enigmas de seu passado, sete anos depois de ela publicar "Bouche Cousue" ("Boca Fechada").

"O fato de não poder dividir um segredo faz ele pesar muito", disse em entrevista. "Você protege o segredo, ao invés de proteger a si mesma."

Mitterrand, disse ela, gostava da ambivalência. Ele gostava de comer com ela em restaurantes e caminhar com ela nas margens do Sena.

Mas tomava cuidado. Mandou funcionários grampearem os telefones de quem sabia da existência de Mazarine.

Mitterrand e Anne se apaixonaram quando ele iniciou sua primeira campanha presidencial, em 1963. Ela tinha 20 e poucos anos, e ele estava no final dos 40.

Quando ele chegou à Presidência, em 1981, Mazarine tinha 6 anos, e Mitterrand se recusou a mudar sua rotina. Ele voltava para a casa de Pingeot quase diariamente e cantava uma canção de ninar para a filha quase todas as noites.

Em 1994, quando veio à tona a existência da segunda família do presidente, o efeito foi de uma explosão, contou Mazarine.

"Meu pai me telefonou e disse 'prepare-se'. Foi ultraviolento. Me senti ainda mais prisioneira."

Hoje Mazarine leciona filosofia na Université Paris 8 e vive com o documentarista marroquino Mohamed Ulad-Mohand. Eles têm três filhos.

Em junho, ela foi ao Palácio do Eliseu oficialmente pela primeira vez desde que seu pai deixou a Presidência, para a posse de Hollande. "Para mim, significou voltar ao Eliseu sem querer me esconder."


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