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Especialista vê risco crescente de ataque químico por Assad

Britânico Bretton-Gordon traça paralelo entre situação do Iraque na época de Saddam e atual cenário sírio

MARCELO NINIO DE JERUSALÉM

O avanço dos rebeldes na Síria aumentou a preocupação mundial de que o ditador Bashar Assad possa usar seu arsenal de armas químicas e biológicas, numa última tentativa de ficar no poder.

Funcionários do governo americano disseram ontem à rede NBC que o Exército sírio já preparou bombas aéreas para o gás sarin e apenas aguarda as ordens do ditador.

Em entrevista à Folha, o maior especialista britânico em armas químicas, Hamish de Bretton-Gordon, disse que o risco tornou-se real nas últimas semanas.

A escalada de violência do governo sírio, diz, lembra a que levou o ditador iraquiano Saddam Hussein a um ataque com armas químicas contra os curdos, em 1988, matando cerca de 5.000.

Ex-comandante de uma unidade de elite do Exército britânico especializada em armas de destruição em massa, Bretton-Gordon trabalha como consultor de uma firma de segurança em Salisbury.

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Folha - O sr. tem recomendado a jornalistas que vão à Síria levar equipamentos contra armas químicas. O uso delas é iminente?
Hamish de Bretton-Gordon - A situação pode mudar rapidamente e há o risco real de uso de armas químicas, por isso a recomendação. Ainda não acho que o risco é iminente. Mas a possibilidade está em curva ascendente.
Há muitas semelhanças entre o comportamento de Saddam Hussein nos anos 80, que o levou a usar armas químicas contra os curdos, e o de Bashar Assad no momento.
O uso de bombas de fragmentação pelo regime sírio elevou o risco. É uma escalada e tudo indica que o próximo passo pode ser o uso de armas químicas. Está claro que Assad não cederá a nenhuma pressão externa, por isso o risco de que ele usará armas químicas é alto.
Só não considero o risco iminente porque o presidente Obama e outros líderes alertaram que o uso de armas químicas cruzaria uma linha vermelha e levaria a uma intervenção da Otan.
Isso serve de dissuasão, porque Assad sabe que seria o seu fim. Não acredito que ele usará armas químicas amanhã, mas se as coisas continuarem como estão, pode ser uma questão de meses ou até semanas.

Uma intervenção viria tarde demais para as vítimas. Há como agir preventivamente?
Um ataque preventivo seria muito, muito difícil. É tremendamente difícil bombardear os depósitos de armas químicas, que estão em torno das grandes cidades da Síria.
Haveria um número enorme de mortos. A população síria não tem o equipamento para se proteger de um ataque químico. Na segunda Guerra do Golfo, da qual eu participei ativamente, houve um ataque preventivo e ele fracassou.
No caso da Síria, os líderes estão tentando dissuadir Assad de usar armas químicas, acho que é o caminho certo.

Estabelecer uma zona de exclusão aérea seria útil?
Uma zona de exclusão aérea no norte do Iraque foi o que salvou a nação curda. Na Síria, o lançamento das armas químicas e biológicas de Assad seria por meio de mísseis e artilharia. Portanto, uma zona de exclusão aérea teria pouco impacto.

Qual o tamanho do arsenal químico e biológico de Assad?
É enorme. É muito difícil dizer o tamanho com precisão. Há cerca de 52 depósitos no país. Em termos de armas biológicas, são centenas de quilos de antraz. Um quilo de antraz é capaz de matar cerca de dez milhões de pessoas.
Seu arsenal de agentes nervosos tem sarin, tabun e provavelmente também VX, um gás ainda mais tóxico. É um estoque maior que o de Saddam, com potencial para matar milhares de pessoas na Síria e em outros países.

Os EUA disseram ter detectado movimento dessas armas dentro da Síria. Isso pode indicar que o uso é iminente?
A informação não é clara. O regime sírio diz que está movendo as armas para centralizá-las e protegê-las, uma explicação plausível. Transferir armas químicas a outros grupos, como o Hizbollah não seria simples. As armas são de fácil detecção.


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