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Doença energiza eleição na Venezuela

Chavistas transformam luta de presidente contra o câncer em engajamento para pleito regional de hoje no país

Serão renovados os governos dos 23 Estados do país; apoiadores do presidente esperam vitória em todos eles

FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

auxiliar de enfermagem Daniela García encheu sua camiseta justa de frases de apoio a Hugo Chávez, com canetinhas de cores diferentes.

"Presidente, volte logo!" "Em frente, comandante. Muita fé."

De mãos dadas com o marido, Daniela, 33, com colar e brincos com a imagem de Chávez, fazia fila no centro de Caracas para pegar uma camiseta com uma imagem do presidente venezuelano, convalescente em Cuba de uma complicada cirurgia oncológica.

"Vamos ficar aqui até 6h da manhã, fazer vigília. O nosso presidente vai voltar. Ele vai voltar", repetia ela anteontem, com olhos marejados. "Ele sabe o que é pobreza, ele viveu. Não tem igual a ele", seguiu Daniela, que com Henry Almaz, 32, auxiliar de cozinha, veio da favela do Petare, leste da cidade, para uma sessão de orações convocada pelo governo pela TV.

Alguns passos adiante, funcionários do governo estampavam ali mesmo as camisetas estilizadas. Os seguidores do esquerdista levavam, cuidadosos por causa da tinta fresca, a imagem só dos olhos do presidente, com os dizeres: "Chávez: agora mais que nunca".

As camisetas-express foram só o último lance da estratégia do governo chavista de transformar a doença de seu líder, e sua revelação de que a recidiva do câncer poderia afastá-lo definitivamente do poder, em uma tentativa de engajamento eleitoral.

ELEIÇÕES ANTICLÍMAX

Pouco mais de dois meses após reeleger Chávez para governar até 2019, os venezuelanos voltarão às urnas hoje para escolher governadores de 23 Estados.

"Vamos votar para dar essa alegria para o presidente: ganhar os 23 governos", diz Almaz, reproduzindo o discurso martelado pelos governistas na última semana.

Até nove dias atrás, as eleições de hoje eram anticlímax, fruto de um inusual calendário eleitoral aprovado no ano passado pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), alinhado ao chavismo.

O órgão eleitoral resolveu desmembrar as eleições gerais (presidente, governadores e prefeitos), que aconteceriam tradicionalmente juntas em dezembro.

As presidenciais foram antecipadas em dois meses, para outubro, o que se mostraria crucial para que Chávez, que se disse curado de câncer, pudesse fazer campanha.

Para muitos opositores, a antecipação não foi uma estratégia ao acaso. Nos bastidores, acusam o presidente de ter manipulado as datas eleitorais para esconder a doença dos eleitores. Chávez nega ter ocultado seu estado.

O fato é que as más notícias sobre a saúde do presidente voltaram a energizar a disputa.

Agora, o quadro é outro. Se o esquerdista deixar o cargo nos próximos quatro anos, haverá novas eleições presidenciais, a serem convocadas até 30 dias após a vacância.

A votação de hoje se transformou, então, num termômetro da competitividade da oposição e do comportamento do eleitorado chavista quando o próprio Chávez não está na chapa. Os cenários não são fáceis de prever para nenhum dos lados.

MADURO E BOLÍVAR

"Sem Chávez, se acabou", diz o sargento César Moreno, 46, que agradece ao presidente por ter aprovado o voto para militares na Constituição de 1999, mas não esconde a contrariedade quanto à indicação feita por ele do vice e chanceler, Nicolás Maduro, como candidato à sucessão.

"A gente vota no Chávez por causa dele. Não gosto de nenhum ministro", afirma Moreno.

Se o casal do Petare é símbolo da base eleitoral chavista nas classes D e E, o sargento representa outro público caro aos governistas: os militares. Dos 23 candidatos governistas hoje, 8 são militares, numa prova do peso do segmento no chavismo.

Para todos, o "chavismo sem Chávez" ainda é uma hipótese bloqueada.

Na praça El Venezolano, onde ocorreria a vigília para Chávez, uma frase do herói do presidente, o prócer Simón Bolívar (1783-1830), está gravada na parede.

É sobre o terremoto que arrasou Caracas em 1812, mas parecia resumir o que chavistas esperam de seu presidente: "Se a natureza se opuser, lutaremos contra ela e faremos que ela nos obedeça".


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