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Análise

Relação de militares e islamitas é o maior enigma do país hoje

SALEM H. NASSER ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde que teve início a sequência de revoltas no mundo árabe, o Egito tem nos brindado com uma série de enigmas. Alguns dizem respeito ao futuro da sociedade egípcia e da sua organização política, outros ao futuro de seu posicionamento no jogo político regional e mundial.

As respostas passam pela solução, ainda que parcial, de alguns quebra-cabeças sobre o presente, o cenário político egípcio atual e as posições dos vários atores -suas divisões e suas alianças.

Afinal, como caracterizar os eventos egípcios a cada momento dado? Será uma oposição entre forças remanescentes do regime anterior e forças revolucionárias?

Ou será uma divisão entre islamitas e liberais? Ou uma disputa de poder entre militares e civis, ou entre os militares e a Irmandade Muçulmana? E quais as preferências dos atores externos e como eles exercem influência?

Não se pode perder de vista que cada ator, considerando seus objetivos e tentando atingi-los, operará por vezes flutuações em seu comportamento e em suas alianças.

Assim, por exemplo, liberais e islamitas estavam unidos na tentativa de derrubar o regime de Mubarak e agora estão se enfrentando sobre uma nova Constituição.

De todos os enigmas, um dos mais obscuros são as relações entre duas forças políticas: o establishment militar, herdeiro e centro do poder que comandou o Egito por quatro décadas, e a Irmandade, marginalizada pelas mesmas quatro décadas, mas cuja força se manifestou assim que houve eleições livres.

No momento em que a posse de Mursi como presidente eleito era posta em dúvida e foi finalmente permitida, cada lado fazia uma aposta em que seria capaz de preservar o máximo do próprio poder ao mesmo tempo em que colocaria em xeque o do outro.

Muito cedo, o presidente pareceu demonstrar o bem fundado da aposta da Irmandade ao demitir lideranças eminentes da cúpula militar.

Desde então, no entanto, havia quem dissesse que havia um acordo entre as duas forças, do qual o fortalecimento da figura do presidente podia ser parte integrante.

Indicações dessa articulação apareceram em várias ocasiões. A mais recente é a extensão dos poderes de polícia do Exército, concedida pelo presidente em meio à forte divisão que opõe seus partidários aos que rejeitam o regime de urgência em que se tenta aprovar a nova Carta.

Mas o que pode fazer com que duas forças que a história de meio século do Egito deveria manter opostas encontrem interesses comuns e sejam levadas a cooperar?

Uma pista pode ser esta: os militares e a Irmandade têm interesse em que o poder continue concentrado e muito verticalizado, preservando tanto a Irmandade de competição quanto a dimensão do aparato militar como ator político e econômico.

E, é claro, desde fora, muitos desejam essa centralização do poder para evitar os riscos de instabilidade que o Egito, se não contido por uma mão forte, poderia trazer ao jogo de poder regional.


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