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Clóvis Rossi

A felicidade mora aqui

O PIB pode desacelerar, mas a sensação de bem-estar do brasileiro só faz aumentar

O BRASILEIRO está razoavelmente bem colocado no campeonato mundial de felicidade. Ocuparia o 16º lugar entre 147 países pesquisados pelo Gallup, com a nota média de 7,1 que se autoatribui.

É o que mostra pesquisa com 3.800 famílias feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e divulgada na terça-feira.

É preciso algum cuidado com a colocação brasileira, porque o Ipea usou os dados colhidos em outubro de 2012 no Brasil para inseri-los na pesquisa Gallup Global feita em 2010.

Pode ser, portanto, que o Brasil seja de fato o 16º país mais feliz do mundo, como pode ser, sabe-se lá, o 20º ou o 10º, o que acaba sendo menos relevante que a nota em si: 7,1 é muita felicidade, convenhamos.

O que o Ipea constata é o que os ingleses chamam de "feel good factor". O brasileiro sentia-se tão bem em 2010 que elegeu uma virgem em disputas eleitorais chamada Dilma Rousseff, já que considerava o governo de seu padrinho Lula o responsável ao menos em parte por tamanha felicidade (a nota média de 2010 já era suculenta, 6,8).

Um pouco de autopropaganda: em 2010, quando José Serra ainda era o líder nas pesquisas, atrevi-me a dizer que Dilma acabaria eleita, exatamente pelo "feel good factor".

Dois anos depois, mudou para melhor, acha a maioria dos brasileiros, tanto que Dilma ou Lula ganharia de novo a Presidência se a eleição fosse agora, como mostrou no domingo o Datafolha.

Os fatores que geram bem-estar são os óbvios: emprego e renda.

O Ipea lembra que o IBGE registra desemprego nos menores níveis da série iniciada em 2002 e rendas crescendo bem mais que o PIB per capita.

O desemprego vai continuar nesse patamar baixo, perto dos 5%, também em 2013, segundo avaliação de dez consultorias ouvidas pelo "Valor Econômico". Logo, a felicidade se estenderá a 2013.

Quanto à renda individual média da população de 15 a 60 anos de idade, subiu 4,89% de 2011 para 2012, contra taxa média de 4,35% ao ano entre 2003 e 2012.

A pesquisa desmente a tese de que dinheiro não traz felicidade: a nota média de quem ganha acima de dez salários mínimos é de 8,4, acima, portanto, da média geral de 7,1 e muito acima dos 3,7 que os sem renda se atribuem na escala da felicidade.

O que fica evidente é que há no Brasil um forte descompasso entre Produto Interno Bruto e felicidade interna bruta. O PIB desacelerou tanto que virou "pibinho", ao passo que o bem-estar se acelerou a ponto de quase virar "felicidadona".

É importante entender, no quesito felicidade/intenção de voto, porque a percepção de corrupção, que aumentou, não afeta a popularidade de Dilma/Lula. A pesquisa do Datafolha mostra que elevado número de consultados aponta corrupção em todos os governos do pós-ditadura, com um pico de 79% no período Fernando Collor.

O que se pode deduzir daí? Que o eleitor parece seguir a lógica do rouba, mas faz. Ou seja, se todos supostamente roubam, voto no que faz (crescer o emprego e a renda).


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