Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Os maias e o abismo fiscal

O mundo não acaba no dia 1º, apesar das cenas explícitas de patologia fiscal e política nos EUA

Assim como o mundo não acabou no 21/12/2012, ao contrário do que diziam certas interpretações do calendário maia, também não vai acabar no 1º/1/2013, quando os EUA despencarão no chamado "abismo fiscal", salvo acordo de última hora.

O cenário que vem sendo traçado é, de fato, apocalíptico: US$ 646 bilhões (R$ 1,323 trilhão) serão retirados da economia, entre aumento de impostos e corte de gastos, o equivalente a 5% do PIB.

Consequência: uma queda de 1,3% no PIB já no primeiro trimestre do ano e um salto do desemprego dos atuais 7,7% para 9,2%.

O mundo todo inevitavelmente sentiria o baque. Sem deixar de reconhecer que o problema é muito grave, convém ir devagar com o catastrofismo: nem o aumento de impostos nem o corte de gastos começam a operar já no dia 1º.

Daria perfeitamente para que "o Congresso vote imediatamente [depois do dia 1º] uma redução de impostos para famílias de renda baixa e média, assim como o adiamento de cortes severos de gastos", diz a "Economist Intelligence Unity", o braço de pesquisas da badalada revista britânica.

No "Politico", bem informado site norte-americano, Jonathan Allen afirma que deixar o país cair no abismo fiscal pode até ser tática dos republicanos: "Para muitos republicanos, um mergulho no abismo fiscal significaria culpar o presidente Barack Obama por um grande aumento de impostos no curto prazo e, então, votar para cortar impostos para a maioria dos americanos no mês que vem".

É claro que o raciocínio se aplica igualmente aos democratas, que deixariam os cortes forçados caírem na cabeça de muitas pessoas e instituições apenas para restabelecer alguns gastos logo depois.

O fato de que o apocalipse pode ser mitigado não significa que o prejuízo para a imagem dos EUA e para a sua economia seja desprezível. Duas coisas estão ficando claras:

1 - O sistema fiscal norte-americano é "patológico", como escreve Christopher DeMuth, pesquisador do Instituto Hudson, para "The Weekly Standard".

De fato, não dá para endividar-se eternamente como vem ocorrendo há décadas nos EUA, em governos republicanos ou democratas.

2 - O sistema político tornou-se disfuncional.

Nesse ponto, a culpa é essencialmente dos republicanos ou, ao menos, da ala que se radicalizou a tal ponto que se nega a aceitar algo que é de puro sentido comum, qual seja a regra tributária segundo a qual quem mais tem paga mais.

Os republicanos, no entanto, rejeitam um ajuste fiscal -exigido para começar a reduzir a insuportável dívida dos EUA- que equilibre aumento de impostos para os mais ricos com cortes de gastos.

Rejeitaram até proposta de um dos seus, o presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, de retirar as isenções para quem ganha mais de US$ 1 milhão anuais (R$ 2,04 milhões ou R$ 170 mil mensais). Se esse pessoal não pode pagar mais impostos, quem poderia?

Com tais patologias, surpreendente é que o apocalipse já não tenha ocorrido.

crossi@uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página