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Golpista acidental

Líder do golpe que precipitou a escalada de islamitas no Mali, capitão Amadou Sanogo evita aparecer desde que a França interveio no país

GRACILIANO ROCHA ENVIADO ESPECIAL A BAMACO (MALI)

O capitão Amadou Sanogo, 40, líder do golpe de Estado que precipitou a escalada dos radicais islâmicos no Mali, tem evitado aparecer desde que a França iniciou a ofensiva visando à retomada do norte malinês.

Enquadrado pelo governo francês, o homem-forte do Exército malinês submergiu e evita falar com jornalistas. Quase não sai da base militar de Kati, no sul do país, e é permanentemente escoltado por guarda-costas. Ontem, a entrada da base era guardada por cerca de 20 homens.

A base militar é um foco de agitação política que gera instabilidade permanente sobre o país, de acordo com diplomatas ocidentais ouvidos pela Folha na capital, Bamaco.

Foi de Kati que Sanogo saiu em março do ano passado, um mês antes das eleições presidenciais, para depor o presidente Amadou Toumani Touré e encerrar 20 anos de estabilidade democrática no país da África Ocidental.

Aos olhos dos estrangeiros, parece um pouco excêntrico ao usar, junto com o uniforme, um tecido grosso marrom que é o traje típico de caçadores tradicionais da região de Segou, sua terra natal.

O estopim do golpe foi uma manifestação de soldados que rumaram de Kati até o palácio presidencial, que foi tomado. Sanogo se proclamou chefe de uma junta militar que governou o país por 20 dias. Sem apoio internacional, ele teve de ceder o cargo ao presidente interino, Dioncounda Traoré.

O pretexto da quartelada foi a falta de apoio de Touré ao Exército para combater os separatistas tuaregues e radicais islâmicos no norte.

Duas semanas após o golpe de Sanogo, os tuaregues declararam a independência do Azawad (norte do país) e grupos ligados à Al Qaeda iniciaram a tomada de um território equivalente ao da França, sem nenhuma resistência do Exército.

'FORREST GUMP'

Pouco conhecido fora dos quartéis antes do golpe, Sanogo tinha uma carreira militar apagada como professor da academia do Exército.

O capitão, porém, ganhou influência rapidamente nas Forças Armadas e suplantou militares com patentes mais altas graças ao seu talento oratório para vocalizar as insatisfações da tropa.

O fato de também ter concluído parte da formação militar nos Estados Unidos e ser fluente em inglês lustra sua imagem em um país onde um em cada quatro habitantes é analfabeto.

"Sanogo só foi chamado ao palácio na última hora e acabou virando o homem-forte. Foi uma espécie de Forrest Gump", disse, em referência ao filme com Tom Hanks, um diplomata, sob a condição de ter o nome preservado.

DISPUTA POLÍTICA

Desde a posse de Traoré, o presidente interino e o homem-forte do Exército travam uma disputa política pelo poder no país.

Na véspera da ofensiva dos rebeldes contra o centro do país, que provocou o envolvimento da França, apoiadores do capitão promoveram manifestações críticas ao presidente nas ruas de Bamaco.

O embaixador francês, Christian Rouyer, expressou o desconforto do governo François Hollande com os movimentos de Sanogo, mesmo sem citá-lo diretamente.

"Agitadores do sul já foram advertidos de que o Exército francês não vai permitir manifestações em Bamaco antes da liberação do norte do país", disse o embaixador à revista "Jeune Afrique".

Procurado pela Folha em Kati, Sanogo não quis conceder entrevista.


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