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Casal quer ter situação regular na volta ao Brasil
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARISJoão nasceu no agreste paraibano, e Chris na Alemanha. Conheceram-se em Campinas (SP), onde estavam de passagem: um era professor convidado, e o outro, doutorando.
Apesar de morarem a mais de 11 mil quilômetros um do outro (João em Aracaju, Chris em Paris), decidiram se relacionar.
Em 2012, os dois casaram-se na cidade de Leiden (Holanda), onde Chris viveu boa parte da vida. O país foi o primeiro a autorizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Pouco antes do casamento, o psicólogo João obteve uma bolsa e hoje cursa parte do seu doutorado em Paris, onde vive com o pesquisador Chris. Poderia ser o final feliz da história, mas as coisas não são tão simples.
"Não reconhecem o nosso casamento no Brasil nem na França, porque ainda não há legislação adaptada", diz João. "E, agora que somos casados na Holanda, não podemos casar no Brasil nem assinar contrato de união civil na França", completa Chris. "A única coisa que dizem é para aguardar."
O medo de ambos é não poder mais ficar juntos por questões burocráticas: "O intercâmbio na França vai acabar, e eu vou voltar para meu emprego no Brasil. Se não reconhecerem nosso casamento, não poderemos passar mais de 90 dias [prazo máximo de um visto de turista] juntos nos países onde trabalhamos", diz João.
"Somos companheiros na vida, dividimos as contas, compartilhamos tarefas. Temos os mesmos deveres, mas não os mesmos direitos de todo mundo", acrescenta Chris.
João conta que, aos 16 anos, foi espancado por um ex-namorado por ter falado da relação a amigos. Na mesma época, foi expulso de casa ao assumir a homossexualidade.
"Ou eu me matava ou enfrentava o mundo. O óbvio era eu me matar, e o transgressor era continuar vivo. Como sou transgressor, preferi ficar vivo."
Sem pai, João foi para um internato, em Campina Grande (PB), que acolhia estudantes. Graças aos bons resultados escolares, ele concluiu ensino médio, faculdade e mestrado com bolsas: "A escola foi a minha casa".
