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Opositor é morto, e cai gabinete da Tunísia
Assassinato de líder secular desencadeou protestos contra o governo islâmico e clamor por 'segunda revolução'
Premiê diz que a nova administração contará com tecnocratas sem ligação com partidos até eleição antecipada
Em meio a um severo descontentamento popular, agravado pelo assassinato de um líder da oposição, o premiê da Tunísia anunciou ontem a dissolução do governo.
Multidões haviam tomado as ruas pedindo a queda do governo islâmico, após o assassinato a tiros do político secular Chokri Belaid,quando ele saía de casa, em Túnis.
Hamadi Jabali, primeiro-ministro tunisiano, afirmou tratar-se de um "assassinato político" e disse que, diante de "circunstâncias excepcionais", formará um governo com tecnocratas independentes até que haja novas eleições "o mais breve possível".
O presidente Moncef Marzuki encurtou visita à França e cancelou viagem ao Egito, dizendo em discurso ao Parlamento Europeu que a nação "continuará a lutar contra os inimigos da revolução".
O governo da Tunísia enfrenta oposição devido às dificuldades econômicas e também à participação no poder do partido islamita Al Nahda, do qual Belaid era um dos críticos mais ferrenhos.
A sede do partido, visto como moderado, foi incendiada em Túnis, e houve ataques em outras cidades do país.
Antes do anúncio de Jabali, grupos de oposição já haviam afirmado que deixariam a Assembleia Constituinte, e uma greve foi convocada.
Belaid morreu no hospital, após ser atingido na cabeça e no peito, segundo porta-voz da coalizão Frente Popular, que ele integrava. O Ministério do Interior diz que o assassino, cuja identidade é desconhecida, fugiu em uma moto com um cúmplice.
O partido Al Nahda conquistou 42% das cadeiras nas eleições parlamentares tunisianas de 2011 e formou um governo de coalizão com partidos seculares. O papel que a religião passou a desempenhar nesse país é criticado.
No ano passado, grupos salafistas impediram a realização de shows na Tunísia, afirmando que violavam os princípios islâmicos. Exposições de arte e museus foram depredados. Em setembro, a embaixada americana em Túnis foi atacada por manifestantes.
REVOLUÇÃO
Há dois anos, protestos em massa derrubaram o ditador Zine al Abidine Ben Ali após décadas no poder, dando a largada à Primavera Árabe.
Ontem, cerca de 20 mil manifestantes foram ao Ministério do Interior, pedindo o fim do governo. Alguns dos ativistas falavam em realizar uma "segunda revolução" no país.
Habib Kazdaghli, decano da Universidade de Manouba e uma das vozes ativas pelo secularismo na Tunísia, disse à Folha que o atual governo "fracassou" e que ele apoia as manifestações pela troca de comando no país.
"Belaid foi morto porque seu pensamento era contrário à política islamita. Ele foi assassinado a sangue frio."
O presidente pediu ontem calma aos manifestantes. Houve, no entanto, protestos em diversas cidades no país.