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Partido islamita contesta o premiê, e crise política na Tunísia se agrava
País vive forte tensão política e programa para hoje a primeira greve geral dos últimos 34 anos
Partido diz já discutir a substituição do atual primeiro-ministro, que anunciara a formação de um novo governo
A incerteza política se agravou ontem na Tunísia, com a decisão do partido governista Al Nahda de contestar o anúncio feito na véspera pelo premiê de que o gabinete seria dissolvido. A sigla afirmou que estuda substituí-lo.
A crise deve se acentuar ainda mais hoje, com a perspectiva da primeira greve geral do país em 34 anos, convocada por organizações sociais.
A tensão havia escalado anteontem, quando o opositor secular Chokri Belaid foi morto a tiros ao sair de casa. A identidade do atirador é desconhecida, mas ativistas acusam o governo de leniência.
Diante da indignação popular com o crime, o premiê Hamadi Jabali anunciou a dissolução do gabinete e a formação de um governo composto de tecnocratas sem filiação política.
Ontem, porém, o partido governista Al Nahda -ao qual Jabali pertence- rejeitou a proposta e afirmou não ter sido consultado sobre as decisões do premiê.
"O premiê não pediu a opinião de seu partido", disse Abdelhamid Jelassi, vice-presidente do Al Nahda. "Acreditamos que a Tunísia precisa de um governo político agora. Continuaremos as discussões com outros partidos sobre formar uma coalizão."
Em entrevista à agência de notícias Efe, um diretor do partido disse que a sigla estuda a substituição de Jabali.
Com conflitos até mesmo dentro da coalizão que governa o país, a Tunísia vive sua pior crise desde a derrubada do ex-ditador Zine el Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011.
A precária situação econômica, aliada a discussões sobre o papel da religião no Estado, polariza a sociedade tunisiana. Ontem, persistiam as manifestações nas ruas, com jovens atirando pedras, e as forças de segurança reagindo com gás lacrimogêneo.
Diante do espectro da violência, lojas fecharam em Túnis, após o almoço. A França, que colonizou a Tunísia, fechou suas escolas no país até amanhã. O funeral de Belaid, segundo sua família, deve coincidir com a greve de hoje, elevando a perspectiva de levante político.
Fontes ligadas à cúpula da UGTT, maior união sindical da Tunísia, afirmam que seu líder, Hussein Abassi, recebeu ameaças de morte após anunciar a greve. Belaid também fora ameaçado, dias antes de ser assassinado.
Opositores acusam o partido Al Nahda de estar por trás da morte. O partido nega. Seu escritório em Túnis, a capital, foi incendiado.
Apesar da recusa do Al Nahda à dissolução do governo, Mehrezia Labidi, vice-presidente do Parlamento provisório que redige a nova Constituição, afirmou que a entidade discutiria a proposta de montar um gabinete formado por tecnocratas.
É necessário que a Assembleia aprove a dissolução, e o processo pode ser longo, diante de divisões internas.
No início deste mês, um partido secular já havia ameaçado deixar o Parlamento, a não ser que ministros do Al Nahda -que conquistou 42% das cadeiras nas eleições de 2011 -fossem substituídos.