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Análise

Renúncia de pontífice abre espaço para mudanças de rumo

JOHN L. ALLEN JR. ESPECIAL PARA O “NATIONAL CATHOLIC REPORTER”

As pessoas vão refletir por algum tempo ainda sobre a surpreendente decisão do papa Bento 16 de renunciar ao pontificado. Aqui e agora, contudo, a pergunta mais premente é o que ela representa para a eleição do próximo pontífice.

Num primeiro momento, a tendência foi imaginar que realizar um conclave com o papa anterior ainda vivo reduziria a probabilidade de os cardeais votarem por mudanças. A lógica era que, enquanto o papa antigo estivesse por perto, os cardeais hesitariam em fazer qualquer coisa que pudesse ser vista como desrespeito.

À medida que a poeira vem baixando, contudo, um consenso diferente começa a emergir. A nova visão geral é que a renúncia de Bento 16 pode, na realidade, abrir espaço para um conclave mais inclinado a colocar a igreja num rumo diferente, por pelo menos três razões.

Em primeiro lugar, a decisão do papa é uma ruptura dramática com a normalidade. Serve para nos fazer lembrar que mesmo uma instituição conservadora e aferrada às tradições é capaz de surpreender.

Nesse sentido, o exemplo de Bento 16 pode inspirar alguns cardeais a abrir a cabeça, a se dispor a correr riscos, dando um passo novo.

Em segundo lugar, a renúncia carrega em si a lógica de que a igreja precisa de um reinício. Afinal, Bento 16 não está passando por nenhuma crise de saúde imediata; ao que consta, ele poderia ter prosseguido no cargo.

Entretanto, ao declarar que não possui a força necessária para enfrentar "questões de relevância profunda para a vida da fé", postuladas por um mundo em transformação acelerada, Bento 16 concretamente assinalou a necessidade de enveredar por um rumo novo.

Em terceiro lugar, sua decisão de separar o final de seu pontificado do fim de sua vida significa que o período que antecede o conclave não será dominado pelas homenagens elegíacas que sempre são feitas quando morre qualquer grande celebridade global -homenagens essas que tendem a exagerar as virtudes da pessoa e minimizar seus defeitos.

Em outras palavras, este será um conclave livre do "efeito funeral" que esteve tão presente em abril de 2005.

Naquela época, um tsunami de fieis enlutados converteu a área em torno da praça São Pedro num imenso oceano de humanidade.

Isso gerou o sentimento de que João Paulo 2º tinha sido um triunfo extraordinário, levando muitos cardeais no conclave a buscar a continuidade acima de tudo.

É claro que também haverá manifestações de afeto quando Bento 16 sair de cena. Ontem mesmo, uma multidão o saudou com gritos de "viva il papa!" e aplausos contínuos. Nada, porém, vai se aproximar do clima triunfal visto em Roma em 2005.

Sem essa dinâmica, muitos cardeais podem fazer uma avaliação mais isenta do papado que chegou ao fim, reconhecendo pontos fortes, mas também debilidades.

Assim, mesmo que todos os cardeais que vão votar em março tenham sido nomeados por João Paulo 2º ou Bento 16 e sigam posições iguais a eles em relação à maioria dos tópicos, há várias áreas em que uma mudança de rumos seria plausível.

Podemos imaginar um papa não ocidental, por exemplo, ou um papa mais sintonizado com o discurso da cultura popular, menos inclinado a ter o secularismo como ideia fixa ou, ainda, dotado de habilidade para administração de empresas, que pudesse finalmente implementar uma reforma séria do próprio Vaticano (ou, pelo menos, frear os tropeços ocasionais que tanto o prejudicam).

Todas essas possibilidades representariam mudanças reais. Quanto mais a renúncia de Bento penetra na consciência das pessoas, mais plausíveis começam a parecer alguns desses cenários.


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