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TRANSIÇÃO NA IGREJA

Papa pede 'verdadeira renovação' na igreja

Em discurso de improviso, Bento 16 cita Galileu e exalta Concílio Vaticano 2º, que mudou a instituição nos anos 60

Descontraído, ele disse a religiosos em Roma que pretende se 'esconder' após renunciar, em 28/2

GRACILIANO ROCHA ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Em uma espécie de testamento de seu pontificado, o papa Bento 16 fez ontem um apelo pela "verdadeira renovação" católica, usando como exemplo o Concílio Vaticano 2º (1962-65), que modernizou a igreja (leia ao lado).

Com vigor surpreendente, o papa, de 85 anos, falou de improviso por 45 minutos a párocos de Roma. Com bom humor, anunciou que a partir de 28 de fevereiro, data em que renunciará, estará "escondido do mundo".

O discurso de ontem foi a continuação da homilia da missa de Quarta-feira de Cinzas, em que criticou a hipocrisia religiosa e a divisão interna do corpo eclesiástico.

Ontem, o papa exaltou o Vaticano 2º como modelo da igreja "portadora do futuro" e disse que suas mudanças ainda não haviam sido finalizadas. "A igreja não é uma estrutura. Nós cristãos, juntos, somos todos o corpo vivo da igreja", declarou.

Ele citou o caso de Galileu Galilei (1564-1642), condenado pela igreja por defender que a Terra girava em torno do Sol e apenas reabilitado por João Paulo 2º, em 1992.

"É preciso encontrar um novo relacionamento entre a igreja e as melhores forças no mundo para abrir o futuro da humanidade e para abrir o verdadeiro progresso", disse.

O discurso de ontem foi o primeiro a ser proferido sem a leitura de um texto preparado com antecedência desde o anúncio da abdicação, na última segunda. O papa falava pausadamente, em italiano, e suas ideias eram expressadas com clareza.

Diante do público interno, Bento 16 estava sorridente ao relembrar o clima de mudança na época do Concílio, do qual participou como um jovem padre alemão.

"Nós fomos para o Concílio não apenas com alegria, mas com entusiasmo. A expectativa era incrível. A esperança era de que tudo iria se renovar, que seria um novo Pentecostes e abriria uma nova era da igreja", contou.

O Vaticano 2º é considerado o mais importante marco do catolicismo no século 20 pela abertura da igreja ao diálogo com outras religiões, especialmente o judaismo, e pela atualização teológica e litúrgica.

OS DOIS CONCÍLIOS

Bento 16 criticou a cobertura jornalística do Vaticano 2º que, afirma, reduziu as discussões a uma disputa por poder entre facções do clero.

Com ironia, ele disse que houve "dois Concílios": o "de verdade", que foi produzido pelas discussões e debates dos religiosos, e "outro", das interpretações publicadas pela mídia.

"O 'Concílio da mídia' foi acessível para todos. Dominante e muito mais eficiente, ele criou calamidades, problemas e misérias: seminários e conventos foram fechados, e a liturgia, banalizada."

Em seguida, ele disse que a força do "verdadeiro Concílio" emerge pelas reformas e pela renovação da igreja.

Com sutileza, ele instou os sacerdotes a trabalhar por mudanças na igreja "a partir deste Ano da Fé" (2013), isto é, após a sua renúncia. "Nossa tarefa é trabalhar para que o verdadeiro Concílio [] prevaleça e a igreja seja verdadeiramente renovada."

Bento 16 também projetou como será a sua vida depois que ele deixar o trono de são Pedro.

"Se me retiro agora para a oração, estarei do lado de vocês e vocês do meu, mesmo permanecendo escondido do mundo", disse o pontífice.


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