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Lixão em alto-mar

Cruzeiro chega ao Alabama após cinco dias à deriva; com privadas entupidas, passageiros reclamam do fedor

DE SÃO PAULO

Do "triunfo" que está em seu nome, o cruzeiro que chegou ontem ao Alabama não vai poder se gabar. O navio Triumph, operado pela Carnival Cruise Lines, aportou nesse Estado americano após passar cinco dias à deriva.

Milhares de passageiros desembarcaram clamando por banho quente e uma privada que não vazasse. Alguns deles, ao chegar ao Alabama, beijaram o chão.

O cruzeiro fedorento, que prometia uma viagem caribenha de quatro dias, perdeu a propulsão no domingo, após um incêndio em sua casa de máquinas. Ele chegou à cidade de Mobile apenas ontem de madrugada, rebocado.

Após o "terra à vista", os 3.143 passageiros voltaram para casa. Cerca de cem ônibus aguardavam para levá-los a Galveston, no Texas, a sete horas de viagem. Outros fizeram percursos mais curtos, para Nova Orleans ou para hotéis em Mobile. E um dos ônibus quebrou no trajeto.

"Dormi um pouco. Tomei banho. Foi muito bom ter uma privada que funciona", disse Nancy Petrone, 58, à agência de notícias Reuters. Ela ia ao sul da Califórnia, após pernoitar em Mobile.

Ontem, uma passageira deu entrada em um processo contra a Carnival Cruise Lines, devido aos infortúnios.

O texano Jacob Combs, que estava a bordo, afirma à Folha que não tem planos semelhantes. "Temos de aceitar o espírito do que é o mar, do que ele pode fazer", diz.

Combs relata ter tido a sorte de a privada de sua cabine funcionar. Mas ele nota que, com o encanamento vazando nos carpetes dos corredores, era impossível fugir do odor. "Passageiros usaram sacos plásticos como privada", diz.

Envoltos pelo cheiro ruim, sobrevivendo a base de pepino gelado e sanduíches de queijo, viajantes improvisaram jogos de carta e organizaram grupos de estudo da Bíblia, para distrair-se na viagem prolongada. Crianças se divertiam em caça ao tesouro.

FEDOR

O acidente do navio Triumph ocorreu no terceiro de seus quatro dias de viagem, após uma parada em Cozumel, no México. A lista de agruras relatadas por passageiros inclui falta de energia elétrica, desabastecimento de comida, falta de ar condicionado e de aquecedor -mas, acima de tudo, o cheiro fétido no ar.

Cercados por privadas entupidas, vazando em cabines e corredores, os viajantes narraram um odor dominante de esgoto no navio. Programas de comédia aproveitaram a deixa, assim como piadistas de plantão no Twitter, para rolar em trocadilhos com cocô.

A própria Carnival Cruise Lines deu aos internautas uma oportunidade para a troça, ao tuitar anteontem que "é claro que os roupões são cortesia". Centenas de usuários republicaram essa mensagem. Um comentou: "Agora que estão sujos de merda, vocês podem ficar com eles".

Passageiros foram fotografados, durante o desembarque, com camisetas engraçadinhas. Um deles dizia "sobrevivi ao triunfo". Uma mulher ganhou as redes sociais com uma placa de "estou com saudades dos meus gatos."

A epopeia do retorno do Triumph, que envolveu anteontem ventos fortes e um cabo de reboque rompido, é o segundo desastre recente de relações públicas para o conglomerado Carnival Corp. A empresa também operava o Costa Concordia, que se acidentou na costa italiana, deixando 32 pessoas mortas.

Além de reembolsar os viajantes e custear o transporte de volta para casa, a empresa -a maior do mundo no ramo dos cruzeiros- afirmou que pagará cerca de R$ 1.000 aos passageiros como compensação a seus "desafios".

O Triumph, em serviço desde 1999, foi levado ontem até um porto para a avaliação dos danos. Foram canceladas 14 de suas aventuras programadas para os próximos meses.

O executivo Gerry Cahill embarcou, após o navio chegar a Mobile, para pedir desculpas pessoalmente aos passageiros. "Nós nos orgulhamos de proporcionar uma grande experiência de viagem e, é claro, nós falhamos neste caso em particular."

A escritora Jayme Lamm, que estava a bordo, tuitou, raivosa. "Eles estão nos mantendo no navio para o diretor da Carnival poder fazer um discurso? Estão brincando?" (DIOGO BERCITO)


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