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'Nova classe C' favorece Correa no Equador

Presidente tenta obter 3º mandato hoje; em sua gestão, mais de 1 milhão de equatorianos passaram à classe média

Governo deve ter ampla maioria na Assembleia; para analista, melhora econômica faz eleitor ignorar autoritarismo

SYLVIA COLOMBO ENVIADA ESPECIAL A QUITO

"Senhor candidato, não perca seu tempo. Aqui já temos presidente. Aqui já temos Rafael." A faixa verde-limão, cor do movimento Alianza Pais (Pátria Altiva e Soberana), afugenta os oposicionistas de Rafael Correa da entrada do mercado.

Ponto central do comércio de El Recreo, o local concentra bancas que vendem frutas, verduras, grãos e também produtos chineses e eletrônicos. El Recreo fica ao sul de Quito, uma das zonas urbanas densamente povoadas do Equador nas quais se concentra 60% do eleitorado do atual mandatário.

Correa é candidato favorito nas eleições presidenciais de hoje. Se vencer, irá para seu terceiro mandato. Segundo as pesquisas, esse economista de 49 anos que trocou a carreira acadêmica pela vida política tem no mínimo 48% dos votos, suficientes para que ganhe no primeiro turno. O segundo colocado, o ex-banqueiro Guillermo Lasso, possui magros 9%.

"Meus dois filhos mais velhos têm emprego, fui operado da coluna com tudo pago pelo governo. Não voto em outro candidato", conta à Folha Ulyses Obregon, 64, vendedor de artigos de limpeza.

Segundo especialistas, os bons números da economia (crescimento do PIB de 4%, desemprego de 5%) e o aumento do investimento em educação e saúde (graças à alta do petróleo, principal commodity equatoriana) são as principais razões do favoritismo de Correa.

"Ninguém vota em Correa por ideologia. As pessoas não se importam com seu modo autoritário, com o discurso nacionalista. O que interessa é a melhora econômica e a estabilidade política", diz Pablo Andrade, cientista político da Universidade Andina Simón Bolívar. O estudioso também destaca a importância dos planos de assistência social, como o Bono de Desarrollo Humano.

O Equador viveu uma crise institucional entre 1996 e 2006, que fez o país ter 15 presidentes em dez anos. Desde então, mais de 1 milhão de equatorianos passou à classe média. "É um fenômeno parecido com a 'nova classe C' do Brasil, ainda que em menor escala", diz Andrade.

A proximidade de Correa com o venezuelano Hugo Chávez não é vista como um tema importante entre os habitantes de El Recreo. "Os problemas da Venezuela são outros, e as preocupações de Chávez também. A Venezuela é um país rico e grande, que quer competir com o Brasil. Nós só queremos que o presidente governe para nós, como tem feito", diz Sebastian Gomez, 32, dono de uma pequena lan house, que também vende doces aos pedestres na porta de entrada.

A eleição de hoje também renova a Assembleia. As pesquisas apontam para uma vitória arrasadora de Correa aqui também. Das 137 cadeiras, a Alianza Pais e seus aliados devem obter cerca de 80.

A ampla maioria será essencial para aprovar projetos que estavam parados antes, como a polêmica Lei de Comunicação, que estabelece cotas para as concessões de rádio e prevê criar um órgão para controlar a imprensa.

Em entrevistas recentes, Correa diz que irá radicalizar sua "revolução". Um dos pontos que prioriza é o que chama de democratização das comunicações. "A informação é um bem demasiado importante para estar em mãos privadas", costuma dizer.

Desde que assumiu o poder, em 2007, Correa estatizou TVs, usou verba oficial para bancar jornais alinhados e condenou jornalistas. A Sociedade Interamericana de Imprensa vê como "muito preocupante" a situação da liberdade de expressão no país.

"Não acho certo perseguir jornalistas. Mas, quer saber, não está nem entre os dez principais problemas dos equatorianos", diz Concepción Acuña, 72, que, na última quinta, escolhia uma boneca para presentear a neta no mercado de Chiriyacu.


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