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Escocês legítimo

Assim como aconteceu há 700 anos, região tem chance real de se tornar país independente do Reino Unido; votação está prevista para 2014

BERNARDO MELLO FRANCO ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO E STIRLING (ESCÓCIA)

Em 1314, foi pela guerra. Armados de lanças medievais, os escoceses expulsaram os invasores vindos da Inglaterra e garantiram uma independência que duraria quase quatro séculos.

Em 2014, pode ser pelo voto. Setecentos anos depois da vitória na batalha de Bannockburn, a Escócia vai às urnas para decidir se continua no Reino Unido ou se volta a ser um país autônomo.

A campanha oficial ainda não começou, mas os dois lados já afiaram o discurso para se enfrentar num plebiscito com a participação de cerca de 4 milhões de eleitores.

Em desvantagem nas pesquisas, o grupo que defende o "sim" à separação tenta estimular o sentimento nacionalista para virar o jogo.

"A Escócia já tem uma cultura própria, uma igreja independente e uma seleção nacional de rúgbi e de futebol. A independência será um passo natural para nós", disse à Folha Susan Stewart, diretora do comitê separatista.

Os partidários do "não" sustentam que a Escócia pode preservar sua identidade cultural sem arcar com os custos, ainda incertos, de romper com o Reino Unido.

"É possível ter orgulho de ser escocês e, ao mesmo tempo, saber que é melhor ficar na união", afirmou o ministro britânico para a Escócia, Michael Moore, em entrevista a correspondentes estrangeiros em janeiro.

A Escócia ganhou autonomia parcial em 1997, com a criação de um Parlamento em Edimburgo e de um governo com poder limitado a áreas como saúde e educação.

As decisões sobre economia, tributação e defesa continuam a ser tomadas em Londres, onde a Inglaterra é uma espécie de sócia majoritária do Reino Unido, que também inclui Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

O debate sobre a separação ganhou fôlego há dois anos, quando o SNP, Partido Nacional Escocês, venceu as eleições locais e fechou um acordo com o governo britânico para realizar o plebiscito.

Mas, para analistas, o resultado da eleição de 2011 não significa que a maioria passou a apoiar a separação. "As pesquisas mostram que o eleitor separa as coisas. O voto foi para quem ele achou que governaria melhor a Escócia", avalia a cientista política Nicola McEwan, da Universidade de Edimburgo.

Líder dos separatistas, o premiê escocês, Alex Salmond, afirma que o novo país continuaria a ter a rainha como chefe de Estado (como fazem países como Canadá e Austrália), usar a libra e integrar a União Europeia. O governo britânico levanta dúvidas sobre o uso da moeda e diz que a Escócia teria que sair e entrar na fila para voltar ao mercado comum.

O discurso de Salmond mudou ao longo do debate. Ele já defendeu a adoção do euro, antes da crise da moeda, e propôs "arco de prosperidade" com Islândia e Irlanda, que afundaram em 2008.

Agora, cita os países escandinavos como modelo e promete bancar os gastos do Estado escocês com as receitas do petróleo do mar do Norte, cuja redivisão teria de ser negociada com o Reino Unido.

Para os separatistas, a Escócia independente poderá reverter os cortes sociais impostos pelo premiê britânico, David Cameron. Para os unionistas, um país menor teria menos força para manter o Estado de bem-estar social.

Pesquisa recente do instituto Angus Reid mostra que só 32% dos escoceses optariam hoje pela separação; 47% preferem ficar no Reino Unido, e 21% estão indecisos.


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