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Análise

Cardeais 'progressistas' têm demonstrado pouca habilidade

MARCELO COELHO COLUNISTA DA FOLHA

Para quem gosta de torcer pelos cardeais mais simpáticos, a situação vai ficando difícil. Quem não gostaria de ver um cardeal negro como o novo papa?

Só que Peter Turkson, de Gana, o mais cotado dos africanos, atrapalhou-se bastante ao vincular os casos de pedofilia (mais exatamente, abuso de menores) no clero católico às práticas homossexuais -o que é bobagem, porque há muita pedofilia heterossexual também.

Não é esse o aspecto pior de suas declarações. Turkson foi além, dizendo que a África está protegida de escândalos desse tipo porque muitas culturas tradicionais não toleram a homossexualidade.

É a posição do clero ultraconservador, que desejaria uma espécie de teste prévio para só admitir heterossexuais em seminários.

Que tal, então, um cardeal "progressista" e latino-americano? Há pouquíssimos, como escrevi em outro artigo, mas Leonardo Boff, por exemplo, já expressou simpatia pelo arcebispo de Tegucigalpa, o cardeal Maradiaga.

"Fala muitas línguas, é piloto de avião", disse Boff à TV Brasil, e "é amigo dos teólogos da libertação". Haveria de contribuir para uma atmosfera de "bem-querença, que foi destruída dentro da igreja". Tem carisma e abertura para um diálogo com o mundo moderno, completou o ex-frade franciscano.

Maradiaga tem aspectos menos simpáticos, entretanto. Quando estourou a crise do abuso de menores nos Estados Unidos, em 2002, nosso progressista não se comportou muito bem.

A imprensa americana, como se sabe, fez grande estardalhaço em torno das revelações. Maradiaga deu sua interpretação sobre a origem do escândalo.

Obviamente, ele admitiu, "quem sofre da doença da pedofilia não deveria estar no clero". Mas, indagou, "por que será que neste momento de terrível conflito no Oriente Médio é que esses escândalos vieram à tona?".

Maradiaga tinha uma explicação. "Todos sabemos que Ted Turner é abertamente anticatólico, e ele é dono não apenas da CNN mas também da Time-Warner. Isso para não dizer nada de jornais como o 'New York Times', o 'Washington Post" e o 'Boston Globe', protagonistas do que não hesito em qualificar como uma perseguição contra a igreja."

Qual a origem dessa perseguição? Maradiaga continuou. "Num momento em que as atenções mundiais estão voltadas para as injustiças cometidas contra o povo palestino, a TV e os jornais americanos ficaram obcecados com escândalos sexuais que aconteceram 40, 30 anos atrás. Por quê?"

Imagine-se o risinho inteligente do "papabile" progressista. "Qual a igreja que mais recebeu Arafat e com mais frequência conclamou pela criação de um Estado palestino? Qual a igreja que nunca aceitou a ideia de Jerusalém como capital indivisível de Israel? Qual a igreja que não aceita projetos para a família em desacordo com os planos de Deus?"

É a Igreja Católica, disse Maradiaga.

É por isso, concluiu, que a mídia americana (só faltou ele dizer "a imprensa judaica internacional") engajou-se numa perseguição feroz, que "me faz lembrar dos tempos de Nero e Diocleciano".

Como novos escândalos atingiram, depois, organizações católicas de direita no México, pode ser que Maradiaga já não esteja tão indignado.

Mas, para um cardeal "progressista" se tornar papa, certamente um pouco mais de habilidade viria a calhar.


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