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Itália vota com modelo econômico em crise

O comunista 'reciclado' Pier Luigi Bersani é favorito para ser premiê, mas Berlusconi não pode ser subestimado

Atua chefe de governo, Mario Monti, tem pouca chance de permanecer no cargo; país tenta se manter competitivo

CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Algumas lojas de artesanato de Veneza colaram na vitrina o cartaz "No China".

"Tudo o que se vende aqui é fatto in Italia", diz Luigi Striffezzi, dono de uma delas. Explica: "Estamos na resistência aos chineses. Só não sei por quanto tempo mais".

O tempo de resistência da "Marca Itália" -e da "dolce vita" a ela associada- depende muito dos resultados da eleição de hoje e amanhã.

A economia italiana repousa em grande parte no prestígio da marca e "permanece uma extraordinária história de sucesso", escreve Uri Dadush, diretor do Programa de Economia Internacional do Centro Carnegie.

Explica: "De uma posição de dependência da agricultura, analfabetismo disseminado e severo subdesenvolvimento quando meu avô era jovem, alcançou um dos mais altos padrões de vida do mundo; as famílias italianas estão, na média, entre as mais ricas do mundo, (...) protegidas pela solidariedade familiar e por uma abrangente rede de segurança [social] que o americano comum, por exemplo, invejaria".

O modelo italiano se baseia em uma formidável rede de pequenas empresas, entre as quais 21 mil chamadas "multinacionais de bolso", que exportam para 150 países.

Acontece que o modelo entrou em crise, "por culpa de três fatores", segundo Stefano Lepri, colunista econômico de "La Stampa": "Declínio histórico do modelo econômico, erros dos governos dos últimos anos e erros do governo da Europa".

A frase do lojista veneziano dá a pista da causa do declínio: a globalização, seguida pela explosão do "made in China", tornou infernal a vida das empresas italianas, ainda mais que o país ficou atado ao euro, que impede desvalorizações.

Consequência inescapável: neste século, a Itália ficaria no 167º lugar em um hipotético torneio de crescimento entre 179 países. Cresceu esquelético 0,2% na média do período 2001/2010. A crise de 2008 em diante pegou o país no contrapé. Em 2009, o tombo foi tremendo (5,2%).

No ano passado, então, com a entrada em um regime de austeridade, como é de regra na Europa, a vida do italiano não foi nada "dolce": a Confederação do Comércio diz que 2012 foi o pior ano do pós-guerra; o licenciamento de carros voltou ao nível de 1979; em janeiro deste ano, a confiança do consumidor registrou o nível mais baixo desde 1996.

Esses números dão razão ao filósofo Paolo Flores D'Arcais quando diz que "a Itália sente cada vez com maior urgência a necessidade de uma política de justiça e liberdade, de uma intransigente vontade reformadora que implique uma radical redistribuição da renda em benefício das camadas mais débeis da população, sem o que não se reativará o consumo e a recuperação econômica continuará sendo uma utopia".

Mas não foi essa a tônica seguida na campanha, transformada em um circo de acusações de parte a parte em que um "outsider", o cômico Beppe Grillo, se transformou em um tremendo sucesso.

Nesse terreno pantanoso, quem fica à vontade é o histriônico Silvio Berlusconi, que, como premiê, levou a Itália às portas do calote: os juros da dívida italiana subiram de 0,45%, quando ele assumiu em 2008, para 5,19% em novembro de 2011, quando foi defenestrado por um "golpe branco" articulado pela União Europeia e pelo presidente Giorgio Napolitano.

Esse fracasso não impede que Berlusconi ironize Mario Monti, seu sucessor e candidato a permanecer como premiê: "O professorino não entende nada de economia", dispara, reduzindo ao diminutivo o título de "professore" que tanto agrada a Monti.

"É perigoso subestimar Berlusconi porque ele chega ao fundo da psique italiana", confirma Martin Sorrell, mago da comunicação, da WPP.

O favorito, em todo o caso, continua sendo Pier Luigi Bersani, comunista reciclado, que é um personagem cinza, pouco adequado ao perfil de campeão da Marca Itália.

Até porque o jornal "Corriere della Sera" submeteu os programas dos candidatos à avaliação da consultoria Oxford Economics. Esta descobriu que o retrocesso econômico neste ano, dado como inevitável, será maior se Bersani ganhar (-1,4% contra -0,8% de Berlusconi).


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