Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Transição na igreja

Bento 16 promete não abandonar igreja

Diante de 50 mil pessoas no Vaticano, pontífice realiza última cerimônia dominical; renúncia será quinta-feira

Pontífice afirma que Deus o chamou para se dedicar às preces e orações; brasileiros saúdam líder da igreja

CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O papa Bento 16 celebrou ontem sua última bênção dominical abraçado pela mesma frase com que assumiu o papado, faz quase oito anos: a família Alanno trouxe de Pescara, 207 km ao norte da praça de São Pedro, uma cartolina branca em que se lia "Obrigado, humilde trabalhador na vinha do Senhor".

Foi assim que Joseph Ratzinger, que acabava de ser eleito papa, se apresentou à massa concentrada na praça.

Ontem, a massa não era tão compacta. Os cerca de 50 mil presentes nem chegavam perto das 250 mil pessoas anunciadas na véspera pelos telejornais italianos.

A fala durou curtos 12 minutos e foi toda ela lida pelo papa, com apenas um trechinho improvisado, para "agradecer aos céus por um pouquinho de Sol".

De fato, o domingo amanheceu iluminado pelo Sol, suavizando o frio de 8º C.

Foi uma fala puramente eclesiástica, que girou toda ela em torno da transfiguração de Cristo, ocorrida no alto de uma montanha e que, segundo a doutrina cristã, representa o encontro do temporal com o eterno.

Bento 16, como se fosse uma explicação para sua renúncia, disse que Deus o chamara ao monte para que se dedicasse "ainda mais" à pregação e à oração.

Mas -acrescentou- isso "não significa que abandonarei a igreja. Se Deus me pede isso, é para que possa continuar a servi-Lo com o mesmo amor, de acordo com minha idade e minhas forças".

A massa explode em aplausos. Ao pé dos 25,5 metros do Obelisco do Vaticano, que enfeita o centro da praça desde 1586, seis bandeiras brasileiras são agitadas pelo ruidoso grupo de seminaristas brasileiros, a maioria paraibanos.

Wellington da Costa, 34, do Mato Grosso do Sul, estuda em Roma e não acredita muito em um papa brasileiro, devido ao grande número de cardeais italianos e europeus que participarão do conclave. Nem se preocupa muito com isso: "O papa não governa para seu país, mas para o mundo".

Ao lado dele, explode o grito "o Brasil é Bento/o Brasil é Bento", depois de "papa, eu te amo".

Os brasileiros vão ao delírio quando o papa diz, em português, "obrigado pela vossa presença e por todas as manifestações de afeto e solidariedade".

Bento 16 agradeceu também em francês -e cinco pequenos cartazes foram alçados para formar a palavra "merci" (obrigado). Depois, em inglês -e um "thanks" surgiu. Depois, em alemão -e uma faixa improvisada dizia "danke".

Pulou para o espanhol - e os peregrinos chilenos soltam um "pic/pic/pic/ia/ie/viva Chile", omitindo pudicamente o final mais usual que é "viva Chile, mierda".

Vem o polonês -e sobe a bandeira da Polônia.

Termina com o italiano, e a família Capruso agradece com a tosca faixa "Ti vogliamo bene" (Te queremos bem).

Mais elaborada é a saudação do conservador Movimento Comunhão e Libertação: "A incrível liberdade de um homem aferrado a Cristo. Obrigado, Santidade".

Nem todos os católicos concordam com tais dizeres, como conta o estudante Dario. Ele se diz "muito próximo do papa", mas admite que um de seus amigos, também católico, lhe disse que a renúncia era "um abandono do barco".

Seja como for, as irmãs Angelina e Maria, na inocência de seus seis e sete anos, erguem seu cartaz colorido que anuncia "non sei solo. Anche io sono con te" (não está sozinho. Eu também estou com você).


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página