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Eleições na Itália terminam em impasse

Centro-esquerda ganha Câmara, mas coalizão de Berlusconi deve vencer no Senado; governo requer maioria nos dois

Se nenhuma aliança conseguir constituir maioria, será preciso novo pleito; indefinição faz aumentar risco-país

CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A ROMA

A Itália deu ontem um passo rumo à ingovernabilidade, porque a eleição resultou em maiorias para partidos opostos em cada uma das Casas do Parlamento: o Partido Democrático (centro-esquerda) ganhou a Câmara dos Deputados, mas, no Senado, a coligação direitista liderada pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi deveria ficar com a maioria das cadeiras.

As duas Casas têm idênticos poderes, o que torna indispensável, para que se forme o governo, que uma mesma coligação seja majoritária em ambas.

Para agregar complexidade ao cenário, o M5S (Movimento 5 Estrelas), de repúdio aos políticos convencionais, teve uma votação espetacular, de 25,5% para a Câmara e de 23,8% para o Senado.

A confusão resultante da votação se deve a uma legislação eleitoral adequadamente batizada de "porcaria". Prevê um prêmio de maioria para o partido/coligação mais votado para a Câmara dos Deputados.

Qualquer que seja a porcentagem obtida, ele fica com 55% das cadeiras, ou 340 em 630. O prêmio irá para a coligação liderada por Pier Luigi Bersani, um comunista reciclado de 61 anos.

Mas, no Senado, o prêmio é atribuído não à maioria nacional, mas região por região.

Com isso, a coligação de Berlusconi tinha, com 99,9% dos votos apurados, maioria relativa de cadeiras (114, ante 113 para o PD), embora a aliança de Bersani tenha obtido mais votos nacionalmente (31,6% contra 30,7%).

O M5S, de criação recente (quatro anos apenas), ficou com 25,5% dos votos para a Câmara (com 99,7% dos votos apurados), muito perto dos 29,1% de Berlusconi, um político que há 20 anos é figura dominante na política italiana, além de dono de três canais privados de televisão, o que lhe assegura presença constante na mídia.

O primeiro-ministro em funções, Mario Monti, o favorito do empresariado, do Vaticano e da União Europeia, foi um fracasso completo (10,5% para a Câmara, 9,1% para o Senado), o que é compreensível: apesar de ter puxado a Itália da beira do abismo financeiro, à qual a conduzira o governo Berlusconi, na economia real houve um tremendo retrocesso.

RISCO-PAÍS

A Bolsa de Valores de Milão começou a tarde subindo até a altura de 4%, enquanto o risco-país descia 11 pontos, para 255, na expectativa de uma maioria clara para o PD.

Quando as urnas desmontaram a expectativa, a bolsa foi caindo até fechar com uma alta de apenas 0,73%. O risco-país -a diferença entre o que Itália paga para rolar sua dívida em relação à Alemanha- subiu para 293 pontos.

Significa que os juros do mercado para a Itália estão em 4,48%, um nível já não tão longe dos 5,19% em que estavam quando Monti assumiu, em novembro de 2011 -e o risco de calote parecia iminente.

É razoável supor que a indefinição eleitoral conspirará nos próximos dias contra a redução desse nível.

É natural, portanto, que a reação de Filippo Ceccarelli, repórter político de "La Repubblica", principal jornal italiano, tenha reagido com "é um cataclismo", à medida que os resultados pingavam.

Oposta foi, naturalmente, a reação no PdL (Povo da Liberdade, o partido de Berlusconi): "Foi um resultado extraordinário, graças ao caráter e à garra do presidente Berlusconi", disse Angelino Alfano, secretário-geral.

Alfano antecipou o óbvio: "Bersani não poderá formar seu governo com o seu programa".

Consequência extraída pela deputada do PD Marina Sereni: "Criou-se uma situação de ingovernabilidade. Vamos a uma nova eleição".


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