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Argentina se defende de 'fundos-abutre'
País apresentou ontem um recurso na Justiça de Nova York para evitar ter de pagar US$ 1,4 bilhão a credores
Caso remonta à caótica moratória de 2001, quando país obrigou fundos a ter perdas; alguns não aceitaram
A Argentina reafirmou ontem, em Nova York, que não pagará o valor de US$ 1,4 bilhão a 14 fundos-abutre internacionais, segundo a determinação do juiz de primeira instância Thomas Griesa.
A sessão contou com a presença do vice-presidente argentino, Amado Boudou, e do ministro de Economia, Hernán Lorenzino, que acompanharam a defesa apresentada pelo advogado Jonathan Blackman diante de três juízes norte-americanos.
"A Argentina não irá além de suas políticas. Os governos não podem ser forçados a fazer algo que viola de maneira fundamental seus princípios", disse Blackman.
Os fundos-abutre são possuidores de bônus em "default" que não entraram na reestruturação proposta pela gestão Néstor Kirchner, em 2005, depois retomada por Cristina, em 2010.
O programa incluiu 93% dos detentores de bônus, que aceitaram trocar a dívida por títulos argentinos, em valor até três vezes menor.
O temor da Argentina é que, caso esses 7% restantes obtenham o direito de receber na íntegra, o país tenha de pagar da mesma maneira o restante, o que somaria cerca de US$ 43 bilhões, para o que faltariam reservas. "A Argentina não pagará a uns mais que a outros", disse Boudou.
"A questão não é que decidam se temos de pagar ou não, mas quando e de que maneira. Se todos resolverem cobrar, haverá um impacto muito forte na economia do país", explicou à Folha Fausto Spotorno, da Orlando Ferreres consultoria.
Entre os fundos-abutre envolvidos, o principal é o NML, de propriedade do financista Paul Singer.
Caso seja ratificado que o valor terá de ser pago, os juízes devem estabelecer o prazo e a forma. Essa decisão deve ser tomada entre dois e seis meses. A Argentina ainda pode recorrer à Corte Suprema, mas analistas adiantam que há pouca chance de o tribunal aceitar essa causa.
Em último caso, se ficar determinado o pagamento e a Argentina continuar recusando, o país pode ser considerado tecnicamente em moratória. "Isso será muito ruim, principalmente para nossa imagem junto a investidores estrangeiros", disse Stoporno.
O governo de Cristina Kirchner já vem enfrentando problemas com os fundos-abutre há meses.
Em outubro, a fragata Liberdade foi embargada em Gana a pedido de credores internacionais. Outros bens do país no exterior, inclusive patrimoniais dos Kirchner, vêm sendo investigados.
Cristina tem também evitado voar no avião presidencial, o Tango 01, para impedir que seja detido.