Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

'Vatileaks' causam embaraço ao papa, mas trazem só intrigas pequenas

MARCELO COELHO COLUNISTA DA FOLHA

Não se sabe exatamente que segredos estão guardados no relatório de 300 páginas sobre o caso "Vatileaks", escrito por três cardeais que não participam do conclave. O jornal "La Reppublica" cita um "lobby gay" em atividade no Vaticano. O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, nega com veemência.

O pior é que, por decisão de Bento 16, só o próximo papa poderá ler o documento. De modo que o conclave se faz, por assim dizer, no escuro.

Os três cardeais (Herranz, Tomko e De Giorgi, todos com mais de 80 anos) estão autorizados a conversar sobre o assunto com os eleitores do novo papa. Mas não há garantia de que boatos e insinuações não turvem a escolha. Nenhuma novidade nisso, aliás.

O que são os "Vatileaks", afinal? Trata-se de uma série de documentos endereçados diretamente a Bento 16, ou a seu secretário particular Georg Gänswein, que foram parar nas mãos do jornalista Gianluigi Nuzzi, graças à indiscrição do mordomo do papa -é sempre o mordomo-, Paolo Gabriele.

Gianluigi Nuzzi publicou esses documentos, com comentários, no livro "Sua Santidade: As Cartas Secretas de Bento 16" (ed. Leya).

RIVALIDADES

Apesar dos esforços do jornalista em valorizar o seu material, não há nada de especialmente aterrador nos "Vatileaks". Na maior parte das vezes, temos sinais de um previsível jogo de rivalidades entre assessores do papa.

Primeiro caso: Dino Boffo, diretor do jornal "Avvenire", órgão da Conferência Episcopal Italiana (a CNBB deles), fazia críticas aos escândalos sexuais do governo Berlusconi. Deu-se mal com isso: um órgão governista, "Il Giornale", passou a fazer campanha contra Boffo, acusando-o de ser gay.

De onde vieram essas denúncias? Segundo Boffo, originaram-se do "professore" Gian Maria Vian, diretor do órgão oficial da Santa Sé, o "L'Osservatore Romano". As suspeitas pela autoria da trama vão além, apontando o "segundo homem" na estrutura do Vaticano.

A saber, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado e camerlengo do Vaticano. Boffo apela ao papa -e suas cartas aparecem então no "Vatileaks".

Segundo caso: relações com fornecedores do Vaticano. Compras de alimentos, contratos com empresas de restauração, superfaturamento -imagine!- na compra de um presépio.

O papa nomeou o monsenhor Carlo Viganò para pôr ordem nas contas. Viganò começa a ser vítima de ataques, é demitido por Bertone, escreve ao papa, a história vai para o livro.

Outro caso: Bertone, sempre Bertone, demite o presidente de um instituto que é, diz o livro, "o pulmão financeiro" dos hospitais e da universidade de Milão. O demitido, cardeal Tettamanzi, figura fortíssima no Vaticano, apela diretamente ao papa.

Há outros eventos curiosos, como o fato de duas dioceses alemãs terem o controle acionário de uma grande editora, a Weltbild, que publica títulos como "Me Chama de Puta" e "O Conde Pornô".

Feitas as contas, os "Vatileaks" podem ter decepcionado o papa pelo vazamento em si, pela quebra de confiança no mordomo. Depõem contra a figura de Bertone.

Mas, do que é público, não há mais do que intrigas bastante pequenas; a Igreja Católica conhece crises bem piores ao longo de sua história.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página