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Transição na igreja

Conclave deve ser influenciado por fator surpresa

Momento atual é similar ao da escolha de João Paulo 2º, em 1978, que pegou todo o mundo católico desprevenido

MARCELO COELHO COLUNISTA DA FOLHA

O conclave que elegeu Bento 16, em 2005, não durou dois dias.

Bem diferente do anterior, o de João Paulo 2º, que conheceu muitas oscilações e reviravoltas até se formar a maioria de dois terços mais um dos cardeais presentes.

Seria impróprio falar em "dois modelos" distintos de conclave, mas o contraste pode alimentar um pouco os palpites para a sucessão de Bento 16.

O cardeal Wojtyla estava longe de ser um dos favoritos em 1978. Segundo conta o padre e diplomata John Peter Pham em "Heirs of the Fisherman" (Oxford University Press), era nítida a divisão dos cardeais entre dois nomes.

De um lado, Giuseppe Siri, arcebispo de Gênova e adversário aberto das inovações do Concílio Vaticano 2º.

De outro, Giovanni Bennelli, arcebispo de Florença, com apenas 57 anos, protegido de Paulo 6º e com apoio dos progressistas.

Começaram com 30 votos cada um. Bennelli tomou a dianteira na segunda votação, passando a mais ou menos 60. Provavelmente sua atuação na Cúria nos tempos de Paulo 6º veio a concentrar mais críticas a partir desse momento, levando o conservador Siri a reunir 70 votos no escrutínio seguinte.

Faltavam apenas 5 votos para Siri tornar-se papa. Ele não conseguiu obtê-los, quando se recusou a fazer um acordo no sentido de apontar Bennelli para o posto de secretário de Estado, o segundo em importância no Vaticano.

Com os italianos em desacordo, abriu-se espaço para o crescimento do polonês Wojtyla, numa espécie de bola de neve. Os relatos divergem quanto à sua votação final: 99, segundo um cardeal, ou 104, segundo a revista "Panorama", dos 111 possíveis.

Mesmo assim, era um nome estranho para muitos cardeais. Um deles, que estava meio surdo, não se acostumou com a sonoridade eslava de "Wojtyla". Perguntou a um interlocutor: "Quem é afinal esse cardeal Bottiglia (garrafa)?"

A eleição de Ratzinger foi menos emocionante. Ele já era o principal teólogo do Vaticano, e depois de João Paulo 2º, talvez fosse mesmo conveniente uma figura mais austera, que não tentasse ofuscar a popularidade do antecessor. Dois nomes fortes, o brasileiro Lucas Moreira Neves e o vietnamita Nguyen van Thuan, tinham morrido em 2002.

Faltava, diz John Peter Phan, convencer os cardeais (na sua maioria nomeados por João Paulo 2º durante seu longo pontificado) que Ratzinger poderia ser, além de teórico, um pastor.

Seus pronunciamentos durante o período de "Sé Vacante", como decano do colégio dos cardeais, foram entretanto de altíssima qualidade -e as forças "progressistas", já consideravelmente combalidas em 2005, não tiveram em quem se segurar.

O conclave atual tem ainda menos "progressistas" que o anterior. De modo semelhante ao de 1978, que se seguiu à morte repentina de João Paulo 1º, pegou o mundo inteiro de surpresa.

Seria uma conjuntura favorável a que os cardeais, sem muito tempo para se conhecer em profundidade, tendam a se concentrar num nome mais ou menos consagrado como favorito -e Bento 16 dedicou a Angelo Scola, arcebispo de Milão, sinais favoráveis. Mas se este raciocínio põe fim a um artigo, evidentemente não põe fim à discussão.


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