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Renúncia de Bento 16 tem semelhanças com a abdicação de papa no século 13

DO ENVIADO A ROMA

Em abril de 2009, Bento 16 foi a Áquila, na Itália, visitar o túmulo de um antigo papa, Celestino 5º. Com olhar grave, ele retirou o pálio (espécie de faixa, um dos símbolos do poder papal) dos ombros e o depositou sobre o caixão do antecessor. A cena, apenas curiosa naquele momento, é vista agora como um dos principais sinais de que sua renúncia estava por vir.

Celestino, afinal, foi um dos poucos papas a renunciar voluntariamente, em 1294, aos 84 anos.

"É como se Bento estivesse comunicando que algo permanece inacabado no mundo da igreja e que isso está, de alguma forma, conectado com Celestino 5º", interpretou o acadêmico americano Jon M. Sweeney no livro "The Pope Who Quit" (O papa que renunciou), biografia de Celestino publicada em 2012.

Em entrevista ao jornal "Il Messaggero", Nunzio Spinelli, padre da Basílica de Santa Maria de Collemagio - onde estão os restos mortais de Celestino 5º-, afirmou que a visita de Bento 16 foi um "gesto premonitório".

Mas esse não é o único fato que os liga, conforme Sweeney. Assim como Bento 16, Celestino 5º argumentou, cinco meses depois de tomar posse, que queria voltar para o que chamou de "uma vida melhor" e que, por razão da idade, saúde e consciência, precisava ter a "humildade" de renunciar.

O ato, citado por Dante Alighieri na "Divina Comédia" como "a grande renúncia", deu-lhe a fama de covarde.

Eram tempos de papas muito mais poderosos e ligados aos reinos de então. Mas, assim como hoje, a igreja estava em crise. A própria escolha de Celestino 5º foi consequência disso.

No ano de 1294, os cardeais estavam reunidos em conclave havia dois anos, sem conseguir resolver um impasse fruto de uma divisão interna. A igreja era basicamente dominada por duas famílias rivais, os Orsini e os Colonna.

Pedro Morrone, nome de batismo do papa, era um velho eremita que passou anos em cavernas e acabou ganhando seguidores, hoje conhecidos como celestinos.

O papado estava vago desde 1292, com a morte do papa Nicolau 4º. Foi quando Morrone, que não participava do conclave, enviou carta aos cardeais cobrando uma definição.

Assim que ela chegou, o conclave, "por inspiração", decidiu nomear o popular eremita como papa. Ancião, duraria o tempo certo para resolver o impasse.

Da mesma forma, antes de seu conclave, em 2005, via-se o então cardeal Joseph Ratzinger como uma ótima solução transitória depois de João Paulo 2º, exatamente pela idade já avançada (78).

Ambos também presenciaram dois importantes encontros de seus tempos. Celestino, o Segundo Concílio de Lyon (na década de 70 do século 13); Bento, o Concílio Vaticano 2º.

No seu curto período como papa, porém, Celestino 5º deixou a igreja cair sob controle do então Rei de Nápoles, Carlos 2º. Enfraquecido e insatisfeito, decidiu voltar à montanha, onde se sentiria mais próximo de Deus. Renunciou, mas acabou enclausurado por seu sucessor.

No último dia 24, derradeira bênção dominical de Bento 16 como papa, ele explicou aos fiéis que estava sendo chamado a "subir o monte'" para se "dedicar à oração". O papa emérito pode até não ter pensado no antigo eremita, mas as coincidências parecem fazer a história se repetir.


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