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Análise
Sem Chávez, foco se volta para seus assessores
Impopulares, ministros do presidente morto anteontem terão difícil tarefa de manter força do regime venezuelano
O maior paradoxo da Venezuela sob Hugo Chávez é a manutenção da sua popularidade por mais de uma década apesar da violência, dos péssimos serviços públicos, da inflação, do desabastecimento e de tantos outros problemas criados ou acentuados sob seu governo.
Parte da explicação está em que seus seguidores o absolviam de qualquer culpa - mas não os seus assessores. Nos bastiões do chavismo, é bastante comum ouvir que "el presidente es bueno, pero su entorno no sirve".
São esses assessores sob suspeita que, a partir de agora, têm a tarefa de conduzir a transição e de perpetuar o legado de um líder carismático e quase imbatível nas urnas, mas que, centralizador, só na reta final da doença tentou preparar um sucessor.
Escolhido para receber o bastão de Chávez apenas em dezembro, Nicolás Maduro ocupava desde de 2006 a pasta de chanceler. Não é propriamente o caminho para um aspirante a presidente.
Ele tem sido inseguro nos últimos dias, com informações no mínimo desencontradas sobre a saúde de Chávez, que em poucos dias teria participado de uma reunião de cinco horas e logo reiniciado a quimioterapia.
A opção por Maduro revela o quão desgastados estão os assessores que lidam mais diretamente com a gestão do país. É o caso de Diosdado Cabello, rechaçado pela ala mais à esquerda do chavismo. Mesmo sendo da cúpula do governo, perdeu a reeleição para o estratégico governo de Miranda, em 2009.
Depois, foi ministro da Infraestrutura, área bastante criticada pelo péssimo estado de estradas, portos e pontes e pelo atraso de obras importantes, como a extensão do metrô de Caracas.
A discussão do chavismo sem Chávez não é nova, mas mudou com o tempo. Com o doloroso processo da doença, a partir de meados de 2011, o debate passou para dentro das fileiras governistas: haverá futuro sem a presença física do comandante?
A grande vantagem do chavismo sobre a oposição para a eleição é de que detém a máquina estatal, inchada pelas nacionalizações, com poder midiático e controle de instituições como o Judiciário e o Ministério Público.
Mas será impossível repetir o carisma de Chávez. Pior: em breve, Maduro, Cabello e outros não estarão mais sob a sua proteção diante da insatisfação generalizada. Culpar os EUA, a oposição e os empresários é uma estratégia cada vez mais desgastada.
Em 2007, o próprio Chávez admitiu que seu governo não sobreviveria sem ele. "Fidel Castro me disse que, se eu morro, esta revolução será levada pelo vento". Nas próximas semanas, o mundo saberá se a previsão está correta.
FABIANO MAISONNAVE foi correspondente da Folha em Caracas de 2007 a 2010