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Transição na igreja

Lei do silêncio gera críticas entre cardeais

Membros dos EUA cancelaram encontros com jornalistas após Vaticano proibir entrevistas até a escolha do papa

Religiosos, que defendem punição para acusados de irregularidades, dizem ter compromisso com a 'transparência'

BERNARDO MELLO FRANCO FELIPE SELIGMAN FABIANO MAISONNAVE ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Irritados com a publicação de reportagens com críticas ao Vaticano, os cardeais que participarão do conclave baixaram ontem uma lei do silêncio e se comprometeram a não dar mais entrevistas até a escolha do novo papa.

A medida evidenciou o mal-estar na igreja e abriu uma crise com os 11 cardeais dos EUA, que vinham cobrando mais transparência no tratamento de escândalos de abuso sexual e corrupção que mancham a imagem da Santa Sé.

Nos primeiros dois dias de reuniões pré-conclave, quando os eleitores ainda podem circular fora dos muros do Vaticano, os americanos deram entrevistas coletivas e defenderam políticas mais duras para punir religiosos acusados de irregularidades.

Ontem, eles foram forçados a cancelar um novo encontro com jornalistas e divulgaram nota em tom de protesto velado contra a mordaça. O texto, de apenas duas frases, diz que "os cardeais dos EUA têm compromisso com a transparência", sugerindo que o Vaticano não segue os mesmos princípios.

A nota acrescenta que os americanos transmitiram apenas "visões gerais" dos encontros, sem desrespeitar as normas de sigilo sobre o processo de sucessão do papa emérito Bento 16.

O voto de silêncio também valerá para cardeais de outros países, que ontem passaram a evitar os jornalistas.

"Nós entramos num período de reflexão e decidimos não dar mais entrevistas até o conclave", disse à Folha o canadense Thomas Collins, arcebispo de Toronto.

O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, negou uma ordem superior para calar os cardeais, mas deixou claro que o comando da igreja estava insatisfeito com a decisão dos americanos de falar sobre os debates.

"O caminho para o conclave é uma situação particular. Aqui não é um congresso ou um sínodo, onde precisamos dar o máximo de informações possível. É um caminho de reflexão e de reserva", afirmou.

Nas coletivas oficiais, Lombardi dá poucas informações e evita comentar qualquer polêmica. Por isso, o colégio que abriga os americanos tinha virado refúgio para jornalistas que tentam driblar a blindagem da Santa Sé.

O mal-estar no Vaticano se agravou com reportagens de jornais italianos que relatam supostos protestos de cardeais contra a falta de informações sobre a investigação do escândalo dos "Vatileaks".

De acordo com o "La Stampa", parte dos eleitores está insatisfeita com o cardeal Julián Herranz, que chefiou a investigação a pedido do papa emérito Bento 16 e estaria se recusando a compartilhar as conclusões do caso.

Os americanos não trataram deste assunto, mas outros cardeais, especialmente italianos, viam suas entrevistas como autopromoção de possíveis candidatos a papa.

Os encontros reproduziam clima de "talk show", com direito a piadas. O franciscano Sean O'Malley disse que não quer ser eleito para continuar a usar traje de capuchinho.


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