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Foco

Jornalistas que cobrem Vaticano se aproximam do papa em viagens

Inacessível na maior parte do tempo, pontífice chega a ter momentos a sós com profissionais

BERNARDO MELLO FRANCO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Para muitos jornalistas, deve ser a forma mais segura de chegar ao céu.

A cada vez que um papa viaja para visitar fiéis e autoridades fora da Itália, um grupo de 60 a 70 profissionais da imprensa embarca junto com ele em cada visita.

São os setoristas do Vaticano, os donos de crachás azuis que funcionam como credencial permanente para cobrir as atividades da Santa Sé.

Embora passem a maior parte do ano num comitê ao lado da praça de São Pedro, é nas viagens internacionais que eles têm a chance de se aproximar mais do pontífice e até lhe dirigir perguntas.

Alguns chegam a ser convidados para um momento a sós com o santo padre, como ocorreu recentemente quando Victor Simpson, da Associated Press, fez o último voo antes de se aposentar.

É um investimento caro para as empresas de comunicação: os bilhetes dos repórteres custam em média três vezes mais que o normal. Na visita a México e Cuba, em 2012, saíram por cerca de R$ 20 mil.

Embora a igreja tenha um rebanho de mais de 1 bilhão de seguidores, o Vaticano não dispõe de um "Aeropapa".

O pontífice viaja em voos fretados da Alitalia, e o tamanho da aeronave varia conforme a rota.

Os jornalistas recebem cópias dos discursos com antecedência e podem transmitir suas reportagens entre a decolagem e o pouso.

Na era moderna, a tradição de pregar o Evangelho fora do Vaticano foi inaugurada no pontificado de Paulo 6º (1963-78), com nove viagens.

João Paulo 2º (1978-2005), o papa peregrino, girou o mundo 104 vezes. A cada aterrissagem, descia as escadas e beijava o solo da pista.

Sem o carisma do antecessor, Bento 16 (2005-2013) fez 24 viagens. O desgaste físico na visita ao México, no ano passado, teria estimulado sua decisão de renunciar.

"O papa João Paulo 2º foi um grande comunicador, sabia falar com as multidões. Era quase um superstar", comenta a vaticanista portuguesa Aura Miguel, da Rádio Renascença, que cobriu 75 viagens desde 1986.

"Bento 16 é um homem mais tímido. Jamais chegaria ao Rio e diria, como o antecessor, que, se Deus é brasileiro, o papa é carioca. Aliás, João Paulo 2º repetiu a frase no México, anos depois."

No Brasil, a jornalista seguia o papa em 1991 quando bispos da CNBB emitiram nota contra a lambada, uma dança que estava na moda e evocava o pecado aos olhos da igreja. Quando a comitiva chegou a Cuiabá, um grupo de fiéis começou a cantar "Aleluia" no ritmo proibido.

"As meninas estavam de branco, e era tudo muito justinho... os vaticanistas italianos gostaram", diverte-se a portuguesa.

O pontífice também se sujeita a críticas por causa das viagens. Muitos fiéis não perdoaram João Paulo 2º por visitar o Chile em 1987. Ele apareceu sorridente ao lado do general Augusto Pinochet, que chefiou uma das ditaduras mais brutais do século 20.

POLÍTICA

A foto com o papa é um ímã de votos disputado por governos à direita e à esquerda.

Em 1998, João Paulo 2º posou com Fidel Castro numa visita histórica a Cuba. Deu a imagem que o regime comunista buscava, mas arrancou em troca mais liberdade de culto e a volta do feriado de Natal, que havia sido extinto pela Revolução Cubana.

No ano seguinte, ele cancelou uma viagem ao Iraque. Segundo o noticiário da época, o governo local condicionara a visita a uma foto com o ditador Saddam Hussein.

Bento 16 também passou por embaraços na Turquia, em 2006. O governo divulgou que ele teria apoiado a entrada do país na União Europeia, o que não ocorreu.

Em Angola, em 2009, o constrangimento foi para os anfitriões. O papa discursou contra a corrupção ao lado do presidente José Eduardo dos Santos, que é constantemente acusado de desvios.


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