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O novo Papa

Cristina não sabe lidar com pontífice, afirma analista

Presidente deve atuar de modo suave para tentar refazer relação com Francisco, seu desafeto, avalia Beatriz Sarlo

Uso político da escolha de Francisco tanto pelo governo quanto pela oposição, porém, é visto com ressalvas

SYLVIA COLOMBO NAS ILHAS MALVINAS

"Não se cultivam boas relações com um papa mandando-lhe empanadas e doce de leite", ironiza a crítica literária e ensaísta política Beatriz Sarlo sobre o comportamento de Cristina Kirchner em relação ao novo papa, seu antigo desafeto.

Para Sarlo, o Ministério das Relações Exteriores argentino, comandado por Héctor Timerman, foi pego de surpresa e não sabe como reagir. "Falta um vaticanista, um setor que se dedique a reconstruir uma ponte da Argentina com Roma, que se perdeu durante o kirchnerismo."

E acrescenta que, se Cristina quer tirar algum proveito político com o papa, refazendo seu vínculo com ele, deve atuar de modo suave. "E ela não sabe ser suave em nada."

Logo após a nomeação de Bergoglio, Cristina mandou uma carta ao novo pontífice e declarou que irá à cerimônia. Isso apesar do afastamento que se criou entre o kirchnerismo e a igreja desde que seu marido, Néstor (1950-2010), assumiu o poder.

Sarlo não acha que a escolha de Bergoglio, contrário ao casamento gay e ao aborto, impedirá o Legislativo de seguir aprovando leis liberais. Desde que Cristina assumiu, aprovaram-se várias relacionadas a liberdades individuais, como a da "morte digna" e a do aborto após estupro.

"O mundo pequeno-burguês se preocupa muito com isso. Mas ele tem mais influência no que diz respeito à educação popular. É um setor para ficar atento." A igreja tem no país uma rede de colégios católicos privados, mas financiados pelo Estado.

A ensaísta, porém, é cética em relação ao uso político que Cristina possa fazer desse momento para arrecadar votos. "É o mesmo que considerar que a Copa de 1978 teve realmente efeito para manter o regime militar. Se ela conseguisse vincular sua imagem à dele, ainda assim teria efeito de curto prazo."

Já Graciela Rohmer, socióloga e analista de opinião pública, acha que a presidente pode aproveitar a "melhora de humor da população, motivada pela euforia da escolha do papa, e fazer com que por algum tempo se esqueçam de fatores irritantes como insegurança e inflação."

Considera, porém, que ainda é cedo para saber se isso terá algum impacto na eleição legislativa de outubro.

Rohmer diz ainda que é natural que a oposição alimente esperanças de que o papa argentino se alie a ela de algum modo, por sua posição de enfrentamento com Cristina.

Há políticos, como Elisa Carrió (Coalizão Cívica) e setores da UCR, que têm melhores relações com a igreja do que os kirchneristas. Já do lado destes, não falta quem busque associar-se ao novo papa. "O papa é peronista", disse Gabriel Mariotto, vice-governador da província de Buenos Aires, de uma ala conservadora do partido.

"Natural que a oposição veja na escolha de Bergoglio a chance de atingir Cristina. E talvez que Cristina tente usar esse fato. Mas o papa não poderá ficar nesse jogo de kirchnerismo contra não kirchnerismo. Terá de olhar para os fiéis do mundo, não só os 40 milhões de argentinos."


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