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Homenagem a São Francisco faz frades de Assis festejarem

Habitantes acreditam que as peregrinações à cidade irão aumentar com a escolha do nome do novo papa

Cidade onde nasceu e morreu o padroeiro da Itália abriga basílica e convento onde estão os seus restos mortais

FELIPE SELIGMAN ENVIADO ESPECIAL A ASSIS (ITÁLIA)

Assim que o "habemus papam" foi pronunciado, na quarta-feira, os 70 frades que vivem no sacro convento da basílica de São Francisco, em Assis, não acreditaram: um papa, pela primeira vez na história, rendia homenagem ao homem que, daquela pequena cidade, revolucionou a igreja de seu tempo, no início do século 13.

Os sinos tocaram. Os franciscanos de 18 nacionalidades se abraçaram e festejaram por toda a noite. Juntos, rezaram para agradecer o que consideraram um sinal.

No dia seguinte, o bispo da cidade, Domenico Sorrentino, deu o tom do que a comunidade espera do papa. "Tens muita coisa a fazer e sofrer."

Como no tempo do "poverello" de Assis, como era chamado por ter trocado uma vida de recursos pela pobreza, o papa Francisco encontra agora uma igreja em crise.

Os problemas vão da perda de fiéis e escândalos sexuais a suspeitas de corrupção no centro do poder.

"Com seu despojamento e simplicidade, ele é a pessoa própria para o tempo difícil que estamos passando", afirma frei Evilasio Andrade da Silva, 42, único brasileiro que vive no local. "Hoje, o mundo caminha no sentido de valorizar a riqueza e o poder. E, de repente, deparamos com uma mensagem do papa que desperta valores contrários a isso. Nos sentimos muito homenageados", diz ele, em Assis há duas semanas.

Já para o frade filipino Arlon Vicário, 51, que vive na cidade há 20 anos, a escolha do nome representa a orientação do novo pontífice. "Ele cria uma identidade cheia de simplicidade, pobreza e amor, que são instrumentos para ensinar às pessoas como se reaproximar de Deus."

Ele e o brasileiro moram no mesmo local onde repousam, desde 1230, os restos mortais de são Francisco de Assis.

O complexo onde ficam a basílica e o convento foi construído poucos anos após a morte do santo, em 1226.

No alto de uma colina na região da Úmbria, Assis, onde nasceu e morreu o padroeiro da Itália, tem pouco mais de 20 mil habitantes e é um dos principais centros de peregrinação do mundo.

Antes do conclave, cardeais brasileiros estiveram lá para uma última oração.

No local, atingido por um terremoto no final do século passado, estão expostas raridades, como uma túnica usada por Francisco de Assis feita com lã de carneiros brancos e pretos, moedas da época e até o documento original com a sua ordem. Também estão guardadas as ossadas de seus primeiros seguidores.

No tempo de Francisco de Assis, aquele monte era conhecido como "colina do inferno", pois para lá eram levadas as pessoas doentes. Ali ele passava boa parte de seu tempo, principalmente depois de se converter, após ouvir durante uma reza a famosa frase: "Francisco, reconstrói a minha igreja".

Agora, a população local imagina que a peregrinação possa aumentar com a homenagem prestada pelo papa ao santo. "Sem dúvida, receberemos mais visitas, ainda mais com a ajuda do 'mass media'", brinca Vicário.

SANTUÁRIO DO MUNDO

Na praça que dá para a entrada da basílica, um homem vestido com um hábito feito de retalhos, descalço e com os pés cheios de feridas, se transforma em uma atração momentânea.

Ele se parece com são Francisco de Assis, que era "baixinho e feinho", como demonstram os afrescos feitos pelo italiano Giotto, conservados dentro da igreja.

Turistas e locais tiram fotos e conversam com o homem, um agrônomo de 64 anos de nome Massimo Coppo, que vive em uma comunidade nos arredores de Assis pregando a pobreza para se conectar com Deus.

A Folha pergunta se ele não sofre com o frio (fazia 4°C). "Claro que eu sofro, mas é uma dor menor perto de todo o sofrimento do mundo. Perto do que Jesus passou." E se ficar doente? "Eu confio em Deus", responde.

"Aliás, vocês viram que sinal precioso foi a escolha do novo papa? Assis agora é o santuário do mundo."

'POBRINHOS'

Mas nem todos estão completamente satisfeitos. Apesar de ter gostado da escolha, o dono do restaurante Taverna dei Consoli, chamado Moreno, diz que preferiria que fosse um brasileiro.

No seu caso, o motivo é mais prático que espiritual, ainda mais em tempo de crise econômica na Europa.

Seu restaurante fica na Piazza del Comune, a pracinha central da cidade, tem um terraço panorâmico e obras de um artista local nas paredes. Na sexta-feira, no entanto, o local estava vazio.

"Eu queria mesmo era um papa do Brasil para trazer mais turistas da sua terra para cá. Brasileiro que vem aqui gasta mais. Pede vinho caro e come tartufo", diz, sério. "Os argentinos, coitados, são mais pobrinhos."


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