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New York Times

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Casal planta museu de arte em bosque

Por CAROL VOGEL

POTOMAC, Maryland - Ao final de uma estrada sinuosa ladeada de residências imponentes, encontram-se 80 hectares de bosques e trilhas. Há também esculturas de artistas como Ellsworth Kelly, Richard Serra e Jeff Koons, uma lagoa artificial e uma construção modernista de calcário que abriga um pequeno museu de arte contemporânea.

Isso é Glenstone, a criação de Mitchell P. Rales, 56, industrial de Washington, e sua mulher, Emily, 36. Apesar de se situar a apenas 25 km de Washington, desde que foi aberto, há sete anos -com visitas possíveis três dias por semana, apenas com hora marcada-, não mais que 10 mil pessoas visitaram sua coleção.

A previsão é que esse número se multiplique. Está sendo planejada uma ampliação que deve custar mais de US$ 125 milhões. Quando estiver concluída, em 2016, esse enclave se tornará um local mais público para as pessoas verem arte e aprenderem sobre arquitetura e ambiente.

A uma pequena distância a pé do museu de 2.300 m2 projetado por Charles Gwathmey, arquiteto nova-iorquino que morreu em 2009, haverá um segundo museu, cinco vezes maior. Projetado por outro nova-iorquino, Tom Phifer, o prédio terá uma série de pavilhões interligados para instalações permanentes. Cada pavilhão será dedicado a um único artista, e uma grande galeria será usada para mostras especiais. Também está prevista uma nova entrada com um pavilhão de cedro japonês. O paisagista Peter Walker está plantando mais de 5.000 árvores. "Nossa meta é criar algo diferente", explicou Mitchell Rales.

Muitos no mundo das artes acreditam que existe um lugar para projetos como Glenstone.

"Não se trata do brinquedo de um homem rico", opinou James Cuno, presidente da fundação J. Paul Getty. "Na ecologia dos museus, Glenstone representa um lugar para se ver arte grandiosa em escala íntima, de uma maneira que os grandes museus não conseguem proporcionar."

Os Rales sofreram alguma resistência. Vizinhos os acusaram de comprar terrenos adjacentes para usar no museu (o que eles negam) e manifestaram preocupações ambientais quando o casal pediu autorização para fazer uma ligação com o sistema de esgotos do condado. Críticos disseram que o museu é excludente. Quando a ampliação estiver concluída, o local ficará aberto cinco dias por semana e o ingresso continuará a ser grátis.

Os Rales estão tão engajados em criar um ambiente convidativo que encomendaram estudos para averiguar quanto espaço as pessoas precisam para olhar arte com conforto.

Mitchell Rales fundou a Danaher Corporation em 1984 com seu irmão Steven. Hoje, a empresa de ciência e tecnologia tem ações vendidas na Bolsa e está avaliada em US$ 40 bilhões.

Em 1998, Rales teve uma experiência que mudou sua vida. Enquanto pescava salmões com amigos na Rússia, o helicóptero que eles tinham fretado fez uma escala para reabastecimento de combustível num vilarejo. Um avião explodiu no local.

"Estávamos a três metros de distância. Tive sorte de escapar com vida. Saí da Rússia descalço, usando apenas shorts e camiseta rasgados. Daquele momento em diante, ganhar dinheiro deixou de ser meu objetivo na vida."

Foi então que começou a tomar forma a ideia de Glenstone. O museu ganhou esse nome porque se situa na Glen Road e há pedreiras ("stone quarries") nas redondezas.

"No momento, temos 800 obras em nosso acervo. Esse número vai dobrar ao longo de nossa vida", disse Rales. "Não quero ter nada escondido em porões." O acervo deles inclui telas de De Kooning, Pollock, Jasper Johns e Robert Rauschenberg, mas também de artistas mais jovens como Christopher Wool, Charles Ray e Robert Gober.

Mitchell e Emily se casaram em 2008 e trabalham em equipe. Ele possui tino para os negócios. A elegante e autoconfiante Emily Rales, ex-curadora de arte e marchand, é a responsável pela escolha das obras. Ela se dedica em tempo integral a Glenstone, como diretora do museu.

O arquiteto Tom Phifer idealizou um conjunto de pavilhões interligados, feitos de blocos empilhados de concreto fundido, dispostos em volta de um jardim aquático em estilo japonês. Entre os artistas cujas obras ocuparão pavilhões próprios estão Brice Marden, Charles Ray, Michael Heizer e Cy Twombly. "Todas as salas terão iluminação natural", disse Phifer. "Foi muito importante garantir que a experiência estivesse ligada à natureza."

A educação é outra prioridade. O casal Mitchell entrou em contato com o sistema escolar para descobrir o que falta no currículo de artes. Ao descobrir que sobra pouco dinheiro para passeios de estudos em campo, os Rale concordaram em pagar pelo transporte de grupos escolares, cujos alunos também vão aprender sobre o meio ambiente.

"Se o verde os atrair até aqui, está ótimo", disse Rales. "Talvez eles também se rendam à arte."


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