Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Poluição na China assusta famílias

Por EDWARD WONG

PEQUIM - O garoto começou a apresentar tosse crônica e nariz sempre entupido quando tinha três anos, no ano passado. Os sintomas se agravaram no inverno, quando a poluição atmosférica no norte da China alcançou níveis recordes. Hoje, ele precisa fazer uma lavagem dos seios da face todas as noites com água salgada.

A mãe dele, Zhang Zixuan, contou que quase nunca deixa seu filho sair de casa. Quando isso acontece, ela geralmente o faz usar máscara. A diferença entre o Reino Unido, onde ela estudou no passado, e a China, é a diferença entre "céu e inferno", disse.

O nível de poluição do ar em Pequim e em outras cidades chinesas, que chega a ser 40 vezes superior ao limite máximo recomendado, está assustando pais, que andam confinando seus filhos em casa, mesmo que isso signifique mantê-los afastados de amigos.

Escolas estão cancelando atividades ao ar livre e estudos em campo. Pais com boas condições financeiras escolhem as escolas de seus filhos com base nos sistemas de filtragem de ar usados. Algumas escolas internacionais construíram enormes cúpulas futuristas sobre suas quadras esportivas para proteger a qualidade do ar.

"Torço para ir morar no exterior no futuro", comentou Zhang, que é advogada, enquanto seu filho adoentado, Wu Xiaotian, brincava no apartamento deles ao lado de um novo purificador de ar. "Se não, vamos morrer sufocados."

Zhang não é a única que deseja deixar o país. Alguns pais chineses de classe média ou alta e estrangeiros radicados na China já começaram a ir embora.

É uma tendência que pode resultar numa perda enorme de profissionais talentosos e experientes à China. Pais estrangeiros recusam cargos de prestígio no país ou negociam pagamentos adicionais de insalubridade por conta da poluição.

Os chineses discutem a ideia de passar férias no Tibete, em Hainan e em Fujian, que qualificam como "destinos de ar limpo".

"Vivo aqui há seis anos e nunca vi a ansiedade chegar a níveis tão altos", comentou Richard Saint Cyr, médico e pai de um recém-nascido. Ele trabalha no hospital United Family, em Pequim, atendendo pacientes chineses e estrangeiros. "Eu mesmo nunca estive tão ansioso. A poluição tem sido extraordinariamente ruim."

Poucos fatos erodiram a confiança no Partido Comunista tão rapidamente quanto a percepção de que a liderança política não conseguiu combater os fatores que ameaçam a saúde e a segurança das crianças. O furor em torno da poluição aérea é generalizado e vem crescendo.

Um estudo publicado pelo "New England Journal of Medicine" mostrou que crianças expostas a altos níveis de poluição podem sofrer danos pulmonares permanentes. Outro estudo, este realizado por pesquisadores da Califórnia e publicado em março, sugere um vínculo entre autismo em crianças e a exposição de mães grávidas à poluição aérea relacionada ao trânsito.

Pesquisadores da Universidade Columbia, em Nova York, concluíram que as crianças de Chongqing, na China, que tiveram exposição pré-natal aos poluentes de uma fábrica movida a carvão nasceram com circunferência craniana menor, cresceram mais lentamente e tiveram um desempenho pior em testes de desenvolvimento cognitivo aos dois anos de idade. Quando a fábrica foi fechada, nasceram crianças com menos dificuldades.

As análises indicam pouca esperança de melhoras se a China não mudar suas políticas de crescimento e não fortalecer sua regulamentação ambiental. De acordo com um relatório do Deutsche Bank divulgado em fevereiro, as tendências atuais de consumo de carvão e emissões dos automóveis indicam que a poluição deve se agravar mais 70% até 2025.

No inverno, quando a poluição atmosférica piorou, alguns hospitais infantis do norte da China receberam grande número de pacientes com doenças respiratórias. Hoje, pais compram purificadores de ar, e máscaras fazem parte da indumentária nas zonas urbanas.

Na prestigiosa Escola de Segundo Grau N° 4, de Pequim, de onde saíram muitos líderes chineses e onde estudam os filhos deles, as aulas de educação física ao ar livre hoje são canceladas quando o índice de poluição está alto.

"Os dias de céu azul e ar aparentemente limpo são vistos como especiais. Nesses dias, eu geralmente saio e faço exercícios", comentou o estudante de último ano Dong Yifu, que acaba de ser aceito pela Universidade Yale, no Connecticut.

Em janeiro, a Escola Internacional de Pequim, uma instituição de elite, concluiu a construção de duas cúpulas de material sintético cobrindo suas pistas de atletismo e quadras de tênis. O projeto custou US$ 5,7 milhões e inclui sistemas de filtragem do ar.

Uma mãe americana, Tara Duffy, contou que escolheu a escola de sua filha em parte porque a escola tinha filtros de ar. Mas agora, depois de passar nove anos na China, ela está deixando o país e diz que uma das razões principais para a decisão foi a poluição.

Colaboraram Amy Qin e Shi Da


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página