Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Japão pesquisa alcance da poluição chinesa

Por MARTIN FACKLER

YAKUSHIMA, Japão - Uma misteriosa peste abateu as florestas primitivas da ilha de Yakushima, deixando para trás os restos desbotados e esqueléticos de árvores que agora pontilham encostas verde-escuras. O engenheiro ambiental Osamu Nagafuchi, um apaixonado pela ilha, acha que sabe de quem é a culpa: da poluição chinesa, carregada pelo vento por centenas de quilômetros.

As autoridades japonesas duvidam que poluentes transportados pelo ar sejam a causa das mortes dos pinheiros.

No entanto, elas e outros cientistas começaram pelo menos a ver Yakushima, que fica longe dos centros industriais do próprio Japão, como um intocado laboratório primitivo para entender como os crescentes problemas ambientais a China podem estar afetando seus vizinhos.

Muitos ilhéus acham que sim. "Estamos começando a nos sentir como um canário em uma mina de carvão", disse o prefeito da ilha, Koji Araki. "Nossa ilha fica bem na direção do vento que vem da China, então recebemos a maior parte da poluição."

Seja qual for a causa, a morte das árvores é preocupante para essa ilhota montanhosa na costa de Kyushu, a mais meridional das ilhas principais do Japão, cujas florestas oferecem um raro espaço de natureza primitiva numa nação tão densamente povoada. Há temores de que o problema assuste os ecoturistas, que garantem a subsistência de muitos dos 14 mil ilhéus.

A maioria dos visitantes vem para ver os majestosos cedros de Yakushima, até agora poupados da misteriosa doença. Durante séculos, os cedros foram derrubados para que sua madeira fosse usada na construção de grandiosos templos budistas em Kyoto, a antiga capital. A maior arvore remanescente, o retorcido cedro Jomon, tem cinco metros de circunferência na base e pelo menos 2.600 anos de idade.

As árvores agonizantes são de uma espécie ameaçada de pinheiro encontrada apenas em Yakushima e em outra ilha.

Nagafuchi disse ter notado o problema quando fotos de satélites mostraram um grande aumento no número de árvores mortas entre 1992 e 1996.

O engenheiro ambiental já havia encontrado neve escurecida durante uma escalada nas montanhas de Yakushima em 1992. Ele descobriu que ela continha silício, alumínio e outros subprodutos da queima do carvão, usado na calefação domiciliar na China. Usando mapas dos ventos, ele teorizou que os poluentes eram trazidos de lá, atravessando o mar do Leste da China.

A descoberta levou Nagafuchi a se tornar professor universitário, fazendo grande parte da sua pesquisa em Yakushima. Lá ele montou pequenas estações para mensurar os níveis de ozônio e enxofre no ar.

Numa tarde recente, Nagafuchi subiu até a mais alta dessas estações, no topo do monte Kuromi, a 1.800 metros sobre o nível do mar. Ele apontou para a tênue névoa que turvava o ar que, segundo ele, deveria ser cristalino. "O pior é quando os ventos sopram de Pequim e Tianjin", duas cidades chinesas a cerca de 1.500 km a noroeste, disse Nagafuchi, 62, que visita a ilha uma vez por mês para recolher as medições. "Isso é prova de que, quando um grande país se industrializa, seus efeitos se espalham para todo lugar."

A preocupação popular com os efeitos ambientais da China disparou neste ano depois de Pequim registrar alarmantes aumentos nos níveis de poluição. Depois disso, autoridades do oeste japonês emitiram alertas sobre níveis elevados de material particulado com até 2,5 micrômetros, suficientemente pequeno para se incrustar nos pulmões humanos. Várias cidades japonesas fizeram avisos para que seus moradores ficassem em casa durante períodos de poluição aguda.

Os que acreditam que a poluição seja de origem chinesa descrevem uma sensação de impotência e dizem duvidar de qualquer ação que o seu governo possa tomar, mesmo que ele se convença de que Nagafuchi tem razão. "Não há muito que possamos fazer, exceto pedir aos chineses para que gastem mais dinheiro na limpeza ambiental", disse Kenshi Tetsuka, assistente de pesquisa de Nagafuchi.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página