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New York Times

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Militar condenado se torna mestre do reiki

Por PASCALE BONNEFOY

SANTIAGO - No ano passado, um engenheiro com câncer de pulmão foi atrás dos poderes curativos de um mestre de reiki chamado Tomás Cassella. Mais tarde, checando no Google, descobriu que aquele homem simpático e atencioso, que por mais de um ano contribuíra para sua cura, havia sido condenado por sequestro.

"Tomás me ajudou tanto, incondicionalmente, e nunca me cobrou nada", disse o engenheiro, identificando-se apenas como Gabriel. "Então, quando soube do seu passado, optei por não pensar a respeito. Simplesmente não faz sentido."

Cassella, 66, ex-coronel do Exército uruguaio, foi extraditado em 2006 para o Chile e processado pelo sequestro de Eugenio Berríos, que havia sido químico da agência chilena de inteligência secreta durante a ditadura de Augusto Pinochet.

Uma investigação criminal concluiu que ao final do regime de Pinochet, em 1990, o departamento de inteligência do Exército levou clandestinamente para fora do Chile ex-agentes procurados por crimes contra os direitos humanos. Em 1991, Berríos foi escoltado sob nome falso para a Argentina, e de lá para o Uruguai, com a ajuda de militares desses países. Cassella, segundo a investigação, recebeu ordens para atuar como oficial de ligação.

Mas a instabilidade emocional e o alcoolismo de Berríos fizeram dele um ônus para seus protetores chilenos e anfitriões uruguaios, e ele sumiu, de acordo com o inquérito. Seu corpo foi achado em 1995, enterrado em uma praia do Uruguai.

Em 2010, Cassella foi condenado a oito anos de prisão por sequestro e formação de quadrilha, e atualmente está recorrendo. "Eu não sabia que eles [agentes chilenos] estavam usando nomes falsos, quem eram ou o que estavam fazendo no Uruguai", afirmou. "Berríos nunca foi sequestrado. Ele morava em um apartamento luxuoso, sua carteira estava cheia de dinheiro, e ele estava livre para se deslocar."

Cassella vive em um limbo judicial no Chile, proibido de sair. Enquanto isso, se dedica a terapias curativas. "Tumores cerebrais inoperáveis, por exemplo, encolhem e até desaparecerem, sem quimioterapia nem radiação", disse. "Eu já fiz isso."

Quando em meados de 1993 alguém alertou legisladores uruguaios sobre o suposto sequestro de Berríos, Cassella, então chefe de contrainteligência do Comando Geral do Exército uruguaio, virou notícia de primeira página. Sua vida havia mudado para sempre, mas não só por causa do agente chileno desaparecido.

Naquele ano, seu cunhado soube que tinha um câncer inoperável. Cassella embarcou em uma busca desesperada por tratamentos alternativos.

"Foi quando ouvi falar do reiki pela primeira vez, trabalhando com energias, pedras, aromaterapia", disse Cassella. Ele fez sua primeira aula de reiki em 1993.

O caso Berríos impediu sua promoção a general em 2000, então ele se aposentou do Exército e montou uma importadora de joias. O negócio ia bem, mas em 2002 um juiz chileno o indiciou pelo caso Berríos. Quatro anos depois, ele chegou ao Chile.

A essa altura, ele já dominava três níveis do reiki. Ao ser libertado mediante fiança, o Exército uruguaio o ajudou a alugar um apartamento. Há seis anos, Cassella está "devotado de corpo e alma" ao reiki e à sintergética -uma síntese das medicinas convencional, homeopática, chinesa e hindu, do reiki, da cromoterapia, das essências florais, do xamanismo e da terapia magnética. Atualmente, ele é o encarregado de todos os grupos voluntários de sintergética num hospital local.

Cassella acredita que seu trabalho é o propósito subjacente para sua extradição.

"Não acredito em coincidência, e sim em causalidade", disse ele. "Agora entendo por que isso aconteceu comigo. O caso Berríos foi um ponto de inflexão na minha carreira militar e na minha vida, mas para melhor."


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