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New York Times

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Projeto no México visa discrição fúnebre

Por KARLA ZABLUDOVSKY

CULIACÁN, México - Uma cruz de mármore de 1,80 metro ocupa duas vagas de estacionamento no terreno em frente à loja atacadista City Club. Os moradores dizem que Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como El Chapo -o mais procurado chefão das drogas do México-, construiu-a para o seu filho, que foi morto a tiros naquele lugar em 2008.

Do outro lado da cidade, uma lápide ornamentada, junto de flores plásticas e uma lona gravada com o rosto de Miguel Ángel Castro, ocupa o canteiro central de uma avenida. Não muito longe dali, fotos de um socorrista assassinado, em uma caixa de vidro enfeitada, recebe os paramédicos que correm pela entrada principal de um hospital.

"Quando andamos pela rua, parece que estamos em um cemitério", disse Guadalupe Meza, cuja casa fica em frente a um santuário encimado por uma cruz. Os moradores dizem que a homenagem foi construída há um ano, depois que um homem foi morto naquele local.

Mais de 500 dessas lápides urbanas -muitas vezes com cruzes, castiçais para velas e fotos das vítimas- foram construídas aqui nos últimos cinco anos. Alguns santuários de Culiacán homenageiam pessoas mortas em acidentes de carro. Mas muitos outros prestam tributo às vítimas da violência das drogas -lembretes constantes da nada invejável distinção dessa cidade como um berço do narcotráfico.

Tudo isso é simplesmente demais para o prefeito Aarón Rivas. "As lápides não nos enviam mensagens positivas."

Aos poucos, a cidade está substituindo esses santuários com discretas placas de mármore ao nível do chão. O projeto recebeu aprovação discreta, sendo a principal preocupação a de que as placas serão pisadas.

Cristina Soria, cujo filho de 20 anos, Juan Enrique Ortega, foi morto em 2008, disse que a dor que ela carrega não será afetada pela mudança, com a qual concordou. "Não vai doer menos se a cruz não estiver lá", disse, "e, como cidadãos, cada um tem de fazer sua parte."

Ainda assim, os organizadores do projeto estão agindo com cuidado porque muitas lápides pertencem a parentes de traficantes violentos. Ramón Osuna, o chefe do projeto, lembrou um telefonema em que um homem advertiu membros de sua equipe de que eles poderiam sofrer um "acidente" se tocassem dois santuários específicos.

Culiacán é conhecida pela devoção aos mortos. Local do que talvez seja o cemitério mais ostensivo do país, a cidade é onde os barões das drogas mortos descansam eternamente em mausoléus aristocráticos, com vários andares e ar-condicionado.

Muitas pessoas aqui acreditam que a alma ronda para sempre o último lugar onde viveu. O local torna-se assim sagrado. Os ladrões não se aproximam desses altares nas ruas.

O prefeito Rivas está consciente da linha fina em que se encontra e ordenou que os líderes do projeto não toquem nas lápides para as quais não tiverem autorização. "Não queremos colocar nenhum trabalhador em risco."


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